“A inércia e a aversão ao risco ainda travam iniciativas que poderiam fazer a diferença”

1-Qual a ideia que esteve na origem deste novo livro «Transformação Digital nas Organizações»?
R-O ritmo sem precedentes a que a tecnologia evolui, com novas aplicações e funcionalidades a surgirem todos os dias, pode criar um sentido de urgência que, frequentemente, precipita as organizações a adoptar tecnologias sem orientação estratégica. Assim, este livro surge da necessidade de abordar os vários temas centrais à transformação digital — como dados, modelos de negócio, cultura organizacional e ética — de modo a defender uma abordagem holística. Pretende-se oferecer uma base robusta a estudantes, profissionais e decisores que lhes permita compreender o termo nas suas múltiplas dimensões, capacitando o uso estratégico da tecnologia como um meio para alavancar a competitividade, a inovação e o valor organizacional, e não como um fim em si mesmo.
2-Hoje, em termos de transformação digital, como descrevem e analisam a situação das empresas, designadamente as Pequenas e Médias Empresas que representam a esmagadora maioria do tecido empresarial português?
R-Existe hoje uma clara tentativa, por parte das pequenas e médias empresas em Portugal — que constituem a esmagadora maioria do tecido empresarial —, de acompanhar a implementação tecnológica e as tendências actuais de negócio e gestão. O acesso a informação e a tecnologias que antes eram exclusivas de grandes empresas tornou-se mais democrático, permitindo que as PME explorem boas práticas de liderança e modelos de gestão internacionais e adaptem roteiros de transformação ao seu tamanho e sector. Mas a verdade é que, em Portugal, esse caminho continua cheio de entraves. Muitas PME ainda estão longe de uma maturidade digital mínima — tema que abordamos numa outra publicação sobre inovação digital. Falta, muitas vezes, conhecimento técnico básico, capacidade de interpretar o que a tecnologia pode (ou não) resolver e, acima de tudo, apoio concreto: financiamento acessível, apoio especializado e uma cultura interna que não veja a mudança como ameaça. Em demasiadas organizações, a inércia e a aversão ao risco ainda travam iniciativas que poderiam fazer a diferença.
3-Em termos práticos de que forma podemos tornar a nossa economia mais forte: do vosso ponto de vista quais devem ser as prioridades globais (políticas governamentais) e empresariais?
R-A transformação digital é uma questão incontornável quando se aborda o crescimento das economias. Como exploramos neste livro, o seu sucesso está intrinsecamente ligado a uma abordagem integrada que combina visão estratégica, investimento estruturado e mudança cultural – uma responsabilidade conjunta de empresas e governos, que torna as economias mais resilientes. Em Portugal, a aposta global, em termos de investimento, deve ser feita na infraestrutura tecnológica, na modernização digital e na expansão do 5G para promover a estabilidade do acesso. Relativamente a políticas governamentais, é imprescindível conceber benefícios à investigação e desenvolvimento, para potenciar a inovação e criar programas de formação contínua e de requalificação, de modo a capacitar os colaboradores. É, ainda, necessário, implementar medidas de redução de burocracia e consolidar processos de transformação digital essenciais à modernização do sector público. No contexto empresarial, recomenda-se a modernização da tecnologia e processos, a promoção de ambientes de trabalho flexíveis e adaptados à crescente digitalização e a integração deliberada de momentos promotores da inovação – recomendações que deixamos no nosso livro, quando abordamos a realidade organizacional em diferentes sectores económicos.
__________
Pedro Isaías/Paula Miranda/Sara Pífano
Transformação Digital nas Organizações
Edições Sílabo 17,70€

