Do Livro do Dia
CRÓNICA
| J. A. Nunes Carneiro
Agora que abriu mais uma Feira do Livro, dei por mim a pensar nos chamados “Livros do Dia”: por norma, cada editor promove diariamente um ou mais dos seus livros que vende a um preço muito especial podendo o leitor poupar até 40%.
Tenho o hábito de percorrer os pavilhões e espreitar os livros do dia com o objectivo de levar para casa uma obra desejada mas gastando bastante menos.
Mas, hoje, pensei um pouco mais neste instrumento do marketing editorial e cheguei a duas conclusões: por um lado e do ponto de vista do consumidor é uma excelente oportunidade para comprar bons livros poupando dinheiro. Por outro lado e do ponto de vista do editor é uma forma de destacar obras que, por qualquer motivo, não despertaram grande interesse nos leitores e, agora, esta é a derradeira possibilidade de recuperar parte do investimento feito na sua edição.
Os mais cépticos são tentados a dizer que os Livros do Dia são sempre obras sem interesse e o editor apenas quer despachar os monos que atravancam o seu armazém.
É, claro uma explicação: mas, quem os pode condenar? A lei da oferta e da procura é decisiva numa economia de mercado. Se um produto não vende (ou vende muito pouco), baixar o preço pode ser a única solução pelo menos parcial. E não esqueçamos que já existem vários editores que acabam por mandar guilhotinar muitos exemplares de títulos que não tiveram êxito editorial.
Contudo, uma outra explicação parece-me possível: a existência dos Livros do Dia e, depois, o recurso à guilhotina são evidências de uma indústria que edita mais do que o mercado compra e, sobretudo, de um sector empresarial em mutação em que muitas vezes as tiragens não são realistas e a receptividade dos pontos de venda é limitada.
Como a maioria dos negócios, o negócio dos livros é arriscado e, neste momento, as regras do jogo e da sua competitividade estão distorcidas: lamentavelmente, os principais actores do mercado não são os autores/criadores nem os seus editores. Quem dita as regras são, claramente, os grandes canais de distribuição que promovem apenas os autores mais vendáveis e os géneros mais populares. Tudo o resto pouco ou mesmo nada lhes interessa. Têm de ser os editores e os autores a fazer os principais investimentos sendo que, percentualmente, são os que menos ganham. Um mercado injusto, não é um mercado saudável nem pode gerar um negócio sustentável. Até quando?