Eduardo Cintra Torres | Telenovela, Indústria & Cultura, Lda


1- De que trata este seu livro “Telenovela, Indústria &
Cultura, Lda”?
R- Este livro visa dar a conhecer o processo de construção
de uma telenovela em Portugal. Durante seis meses, acompanhei a feitura da
novela Mar Salgado, através de um único episódio, escolhido ao acaso: desde a
reunião em que a autora apresentou à equipa de argumentistas as ideias-chave
dos episódios a escrever nessa semana até à sua apresentação na SIC e
apreciação da novela em geral por um grupo de espectadores. Depois daquela
reunião, acompanhei as várias versões do argumento, reuni com argumentistas,
com a directora do projecto, acompanhei o processo burocrático da Continuidade,
visitei o guarda-roupa e cenários, estive nas gravações de várias cenas, falei
também com os responsáveis da produtora, a SP Televisão, e da SIC. Acompanhei a
pós-produção (cor, som final). Verifiquei como o episódio, tal como escrito e
entregue, foi depois dividido por duas noites pela SIC.
2- De forma resumida, qual a principal ideia que espera
conseguir transmitir aos seus leitores?
R- O livro procura analisar, à medida que apresentou a minha
“grande reportagem”, como a dimensão cultural e a dimensão industrial
da novela se entrelaçam, como se condicionam e como não podem viver uma sem a
outra. Essa análise ainda não existia, pelo que foi este o meu contributo para
o estudo da telenovela, quer em Portugal, quer na América Latina. Tentei fazer
um livro que fosse interessante para qualquer leitor ou espectador e que ao
mesmo tempo contribuísse para os estudos académicos de televisão.
3- Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R- Dentro de poucos meses deverá sair um livro de que sou o
organizador. Trata-se da primeira reedição da única obra de ficção de Afonso
Lopes Vieira, “Marques” (História dum Perseguido), que jaz nas
bibliotecas desde 1903. A Imprensa Nacional-Casa da Moeda acolheu a minha
proposta de reeditar esta novela que vários autores, como David
Mourão-Ferreira, Aquilino Ribeiro e João Gaspar Simões, consideraram uma
obra-prima esquecida ou uma novela de grande modernidade. A reedição incluirá
dois estudos: um de Cristina Nobre, enquadrando literariamente a novela, e
outro meu, analisando-a no âmbito da sociologia da literatura, focando aspectos
como o anarquismo literário, a cidade e a anomia, a irreligiosidade e o
suicídio no dealbar do século XX, temas que Lopes Vieira transfigurou com
grande brilho literário. Para publicação em 2017, já tenho editora para um estudo
histórico da greve geral no Porto em 1903, a maior greve em Portugal até então.
Já publiquei dois artigos académicos parciais sobre este movimento social,
igualmente esquecido, um sobre as repercussões literárias, outro sobre a sua
relação com a imprensa diária de então, mas pretendo agora juntar à sociologia
da literatura e dos media a análise propriamente histórica desse acontecimento,
que mudou o rumo do movimento operário português e apresentou características
que impressionam pela modernidade.
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Eduardo Cintra Torres
Telenovela, Indústria & Cultura, Lda
Fundação Francisco Manuel dos Santos, 3,50€