Felipe Díaz Pardo: “Com o objectivo de provocar a curiosidade do leitor”

1-Qual foi a ideia que esteve na origem do seu novo livro A Literatura Universal em 100 Perguntas?
R-Com A Literatura Universal em 100 Perguntas, procurei oferecer, através de uma abordagem inovadora e envolvente, uma visão geral da literatura de todos os períodos e lugares. Sei que se trata de um empreendimento complexo devido à amplitude do tema. E é também fascinante, pois abrange um panorama que, felizmente, não se esgota nas suas páginas.
O livro que apresentamos apresenta vários aspectos ou características. Por um lado, visa destacar a riqueza do património literário de todos os tempos e países. É obviamente impossível realizar tal tarefa em 300 páginas, mas creio que é suficiente para despertar o interesse por um tesouro literário que abrange desde a Antiguidade até aos dias de hoje.
Por outro lado, a minha intenção era criar um volume agradável com um tom informativo. As informações simples podem ser encontradas em qualquer manual sobre o assunto ou em sites mais ou menos fidedignos. Não se trata de mergulhar de cabeça numa leitura fastidiosa, puramente linear e cronológica, que pode demorar um tempo considerável. Trata-se de conectar, investigar e inferir, sempre com o objectivo de provocar a curiosidade do leitor. Por isso, procurei complementar o carácter agradável e informativo do livro, sempre que apropriado e com espaço suficiente, com textos das obras referidas, para ilustrar o que foi dito. Quero também destacar as possibilidades que o volume oferece para uso educativo, para que os professores possam utilizar este livro como ferramenta para as suas aulas, abordando questões relacionadas com a teoria literária, generalidades e factos interessantes sobre literatura. Por fim, procurei também destacar a importância da mulher na literatura ao longo dos tempos. De Sago a E. L. James, passando por Mary Shelley, Virginia Wolff e Alfonsina Storni. E tudo isto evitando discussões aprofundadas e fastidiosas e tentando, como dizemos, despertar a curiosidade e a motivação do leitor.
2-Qual o lugar da literatura portuguesa na literatura mundial?
R-A literatura portuguesa tem sido bem representada ao longo da história da literatura mundial, desde os seus primórdios na Idade Média, com as cantigas galego-portuguesas, tão influentes na lírica castelhana. A sua literatura tem sido marcada pela sua ligação ao Atlântico e pelo seu papel de ponte entre a Europa, a África, a Ásia e a América Latina. Inicialmente, destaca-se o Cancioneiro Medieval, uma rica tradição de poesia trovadoresca que floresceu nos séculos XII e XIII, e anos mais tarde, no século XIX, surge o Romantismo, um movimento característico e fundamental no país.
Mais tarde, a literatura portuguesa passou a integrar a literatura mundial através de figuras universais como Fernando Pessoa e José Saramago, e de obras-primas como Os Lusíadas, de Camões, que revitalizaram géneros e refletiram as preocupações da sua época. A sua literatura é também marcada pela sua rica tradição lírica e narrativa, que influenciou outras literaturas, especialmente a hispânica. Camões é o poeta nacional português e uma figura à altura dos maiores da literatura mundial, graças à obra acima referida, um poema épico que revitalizou o género e teve grande influência na literatura espanhola. Posteriormente, Pessoa, com a sua poesia, explorou a vida interior e a condição humana, encontrando beleza no quotidiano e nas pequenas alegrias, o que lhe conferiu relevância universal. Por fim, o Prémio Nobel José Saramago deixou uma marca indelével, explorando temas como a luta humana por um propósito e a desilusão inerente à condição humana. Outros autores que devem ser considerados essenciais nesta pequena lista são José María Eça de Queirós e António Lobo Antunes. Em última análise, a literatura portuguesa, através dos autores acima referidos, aborda temas universais como a procura de um propósito, a melancolia, a desilusão, a vida interior e as pequenas alegrias — temas que ressoam com a condição humana.
3-Numa era em que os best-sellers tendem a ocupar cada vez mais espaço nas livrarias e na mente dos leitores, poderemos perder o prazer dos grandes clássicos?
R-Como dizemos numa das perguntas do volume, um best-seller refere-se, em sentido geral, ao livro best-seller ou “um livro de grande sucesso comercial”. Embora o leitor possa identificar este tipo de livros com a definição anterior, devemos lembrar que existem vários tipos de best-sellers, e um desses tipos é o de longa duração, ou seja, livros que vendem bem ao longo do tempo; e entre estes livros estão também os clássicos. Aqui encontramos a Bíblia, o Corão, a Odisseia ou Dom Quixote, por exemplo. Alguns destes livros, como Ulisses, de Joyce, ou as coletâneas de poesia de Federico García Lorca, que antes vendiam poucos exemplares, mantêm hoje tiragens de um certo número.
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Felipe Diz Pardo
A Literatura Universal em 100 Perguntas
Guerra & Paz 19€

