Helena Magalhães: “Um livro que procura ir mais longe na reflexão do que é ser mulher”
1- O que representa, no contexto da sua obra literária, o livro Atos de Desobediência?
R- Este livro vai de encontro aos temas que têm vindo a ser transversais em toda a minha obra. Em Raparigas como Nós, o meu romance mais jovem, explorei as minhas próprias memórias de infância, a pressão dos pares, o impacto das primeiras experiências de amor e como vão moldar a forma como encaramos as relações na vida adulta, a busca por nos encontrarmos enquanto mulheres e a busca por uma conexão com os outros. Em Ferozes, que é uma reflexão feminista, abordo o que é ser mulher nos dias de hoje, lidar com o trauma, a dor, a solidão, a forma como a literatura me salvou. Em A Devastação explorei novamente o impacto da infância na vida adulta, o trauma e o abuso sexual. Atos de Desobediência chega assim numa nova fase da minha vida e da minha bagagem literária, apesar de abordar muitos dos temas que os meus outros três trabalhos já tinham explorado (e será que irei parar de explorar?, talvez não) encaro-o como um livro que procura ir mais longe na reflexão do que é ser mulher, os papéis que nos são impostos e como o silêncio é por vezes a única arma que temos para lidar com o trauma. Tal como já tinha feito nos outros três livros, mais uma vez aqui a literatura é a bóia de salvação, quer da narradora, quer da autora.
2-Qual a ideia que esteve na origem do livro?
R- Este livro foi durante alguns anos um trabalho que guardei no computador e onde ia como escape, se Cícero representa a terapia da Glória Brito, este livro era a minha forma de terapia mental e emocional. A personagem foi ganhando corpo e sempre quis escrever sobre uma escritora porque sou fascinada pelo imaginário que se criou da vida de tantas escritoras mulheres e dos eventos das suas vidas que se misturam com a ficção que escreveram. Então primeiro nasceu a Glória Brito enquanto voz e depois foi nascendo a história que queria contar através dela.
3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R- Tenho sempre vários trabalhos onde vou trabalhando de forma intermitente nuns ou noutros até que um deles se torna o principal e acaba por me engolir por completo, aí deixo de conseguir pensar nos outros e durante meses / anos dedico-me só a um. Neste momento ainda não fui engolida por nenhum.
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Helena Magalhães
Atos de Desobediência
Edições ASA 17,90€