Jorge Rio Cardoso: “O desafio é humanizar a IA, não automatizar a humanidade”

[Fotografia: Ben do Rosário] Um ensaio sobre a influência e sobre o impacto da Inteligência Artificial na educação. Para o autor, a “IA não substitui a inteligência humana” e “o balanço é positivo, mas não isento de desafios”. na área da educação, os efeitos já se fazem sentir.
Um livro de leitura obrigatória para professores e educadores. 
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P- Qual a ideia que esteve na origem deste seu novo livro “Mais IA, Melhor Educação”?
R-A ideia central do livro surgiu da constatação de que a Inteligência Artificial (IA) já não é um fenómeno futuro, mas uma realidade presente e em expansão. Sendo a educação um dos pilares fundamentais da sociedade, torna-se imperativo refletir sobre como esta tecnologia pode ser integrada de forma ética, pedagógica e eficaz no processo de ensino-aprendizagem. O livro pretende ser um guia acessível e reflexivo para professores, alunos, pais e decisores políticos, destacando as potencialidades e os riscos da IA no contexto educativo, e propondo uma abordagem humanista da sua utilização.

P-A IA está a ter já hoje um impacto poderoso nas nossas vidas: como está a ser na área da educação?
R-Na educação, o impacto da IA é já visível em várias dimensões: desde a personalização da aprendizagem, passando pela análise de dados educacionais, até ao apoio ao trabalho docente. Ferramentas como o ChatGPT, Duolingo, Khan Academy ou DreamBox estão a transformar a forma como os conteúdos são apresentados e adaptados às necessidades individuais dos alunos. Ao mesmo tempo, a IA permite aos professores planearem melhor, criar materiais didáticos, automatizar avaliações e identificar precocemente dificuldades de aprendizagem.

P- De que forma a IA vai obrigar a reconfigurar o modelo educativo que hoje temos nas nossas escolas (da escola primária à universidade)?
R-A IA está a desafiar o modelo educativo tradicional, centrado na memorização e uniformidade, propondo uma abordagem mais personalizada, interativa e centrada no aluno. Isto exige uma reconfiguração curricular, metodológica e até arquitetónica da escola. As pedagogias ativas e vivas, baseadas em projetos, colaboração e interdisciplinaridade, ganham um novo impulso com o apoio da IA. O papel do professor passa de transmissor para orientador e facilitador de aprendizagens.

P- A IA numa dupla perspetiva. Comecemos pelos alunos: como é que a IA pode tornar a aprendizagem mais rica, mais eficaz e mais sustentada?
R-A IA potencia uma aprendizagem mais rica ao proporcionar feedback imediato, personalizar conteúdos conforme o estilo de aprendizagem (visual, auditivo, cinestésico), adaptar a dificuldade dos exercícios ao desempenho do aluno e oferecer assistência virtual contínua. Esta personalização permite que cada aluno avance ao seu ritmo, reforçando a motivação e o envolvimento. Ferramentas como Smartick, Duolingo ou Edmodo são exemplos disso.

P- E na perspetiva dos professores: que transformação terão de ter as suas metodologias pedagógicas?
R-Os professores terão de evoluir para uma prática mais colaborativa, interdisciplinar e centrada no aluno. A IA não substitui o professor, mas exige uma nova mentalidade pedagógica. Os docentes devem ser formados para tirar partido das ferramentas de IA no planeamento, na avaliação e na monitorização das aprendizagens. Ao mesmo tempo, deverão manter o foco no desenvolvimento de competências socioemocionais, pensamento crítico e criatividade — áreas onde a presença humana é insubstituível.

P-Fazendo um balanço destes primeiros anos e com o que já se antevê, que balanço podemos fazer na área da educação: positivo ou negativo?
R-O balanço é, tendencialmente, positivo, mas não isento de desafios. A IA trouxe inovação, eficiência e novas possibilidades à educação. No entanto, persistem riscos, nomeadamente no que diz respeito à desigualdade de acesso, à privacidade dos dados e ao uso inadequado (por exemplo, plágio ou dependência tecnológica). É por isso essencial que o sistema educativo se prepare com regulação clara, formação contínua e uma abordagem ética da tecnologia.

P-Finalmente: com o ChatGPT (e ferramentas similares) corremos o risco de o conhecimento humano, a investigação e o estudo se tornem obsoletos?
R-Não. O conhecimento humano não se tornará obsoleto, mas transformar-se-á. A IA não substitui a inteligência humana — complementa-a. Tal como a máquina de calcular não anulou a matemática, mas permitiu cálculos mais avançados, a IA pode libertar tempo para que os alunos e investigadores se concentrem em tarefas cognitivamente mais exigentes. A criatividade, o pensamento crítico e o juízo ético continuarão a ser domínios exclusivamente humanos. O risco não está na ferramenta, mas no uso que dela se fizer. O desafio é humanizar a IA, não automatizar a humanidade.
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Jorge Rio Cardoso
Mais IA, Melhor Educação
Guerra e Paz  17€

Jorge Rio Cardoso na “Novos Livros” | Entrevistas

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