José Gil: “A IA põe em questão conceitos fundamentais da filosofia”
1-Qual a ideia que esteve na origem deste seu novo livro Pontas Soltas-I?
R-A ideia de reunir em livro os textos esparsos de Pontas Soltas I surgiu quando me apercebi da estranha coerência que os unia: se bem que cada um tendesse a resolver um problema diferente, sem aparente relação com os outros, remetiam todos para um núcleo problemático comum. Como pontas soltas de um puzzle que, paradoxalmente, ao serem atadas, levantavam novos problemas.
2-Sobre as várias reflexões que faz, a questão da Inteligência Artificial suscita interesse redobrado: como é que o filósofo observa a IA e os seus efeitos?
R-A IA põe em questão conceitos fundamentais da filosofia: se a nossa inteligência se pode reduzir a funções algorítmicas, o que pensar da criação artística, de um acto livre, de uma escolha moral? É a imagem tradicional do homem que é assim posta em causa. Política, justiça, amor, corpo, vida e morte terão de ser repensadas. A IA e a ameaça da extinção da espécie pelas alterações climáticas propõem desafios únicos ao pensamento filosófico.
3-Fala no início do livro sobre “enigmas” sobre os quais a sua reflexão incidiu/incide: quais são esses enigmas que agora o ocupam ou preocupam?
R-Os enigmas são infindáveis: por exemplo, como é que o corpo conhece imediatamente, sem fazer cálculos, um certo ponto no espaço em redor? Como é que um acto livre conjuga em si caos e necessidade? Como é possível que populações inteiras possam escolher livremente (isto é, democraticamente) poderes políticos ditatoriais que lhe retirarão a liberdade? Porque é que a perspectiva de morrer angustia tanto, como se nos víssemos, em vida, viver depois da morte sem a presença do mundo? Etc.
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José Gil
Pontas Soltas-I
Relógio d’Água 17€