Mário Cordeiro: “O meu cão –que não se ofendam os humanos, incluindo a família”

Mário Cordeiro é médico pediatra, professor e autor. Na sua profissional é especialista em Pediatria e Saúde Pública, com intensa actividade nas áreas da saúde e dos direitos das crianças e dos adolescentes. Nesse contexto, é autor dos livros O Grande Livro do Bebé, O Livro da Criança, O Grande Livro do Adolescente e Educar com Amor, entre outros.
No campo da literatura acaba de editar um novo romance: Redemoinho. E também escreveu e editou poesia. Os seus poetas preferidos são Fernando Pessoa, Sophia de Mello Breyner e Eugénio de Andrade.
__________

O que é para si a felicidade absoluta?
Não creio que exista uma “felicidade absoluta”, mas sim uma luta constante por cada vez mais e melhores momentos de felicidade.

Qual considera ser o seu maior feito?
Sinto-me globalmente realizado a nível pessoal, profissional (como professor, médico e escritor) e como pessoa e cidadão.

Qual a sua maior extravagância?
Bibliófilo compulsivo (uma autêntica doença).

Que palavra ou frase mais utiliza?
Uso muitas… será difícil escolher. Gosto muito de metáforas e uso-as no quotidiano (aulas, consultas e até no linguajar caseiro).

Qual o traço principal do seu carácter?
Deveriam ser os outros a julgarem-no, mas assim perguntado, procuro retidão, coerência, afeto, lealdade e honestidade. E frontalidade, que já me custou caro… às vezes sou um bocado ingénuo, o que também já teve o seu preço.

O seu pior defeito?
Teimosia, ou dito de outra forma, enquanto acredito numa coisa, acredito mesmo nela e defendo o meu ponto de vista. Se for olhado como perseverança, ganha outro aspeto! Também não sou um ser muito social.

Qual a sua maior mágoa?
Ter perdido demasiado tempo com pessoas e situações que não valiam “um caracol”, e ter aprendido a dizer “não!” demasiado tarde.

Qual o seu maior sonho?
Viver tranquilamente, estar com a minha mulher e usufruir de bons momentos, ver os meus filhos e netos cada vez mais autónomos, passear o cão, continuar a escrever e a ouvir música, e a deliciar-me com o que é Belo

Qual o dia mais feliz da sua vida?
Há várias dimensões, mas creio que o 25 de Abril, no plano político, e vários momentos da minha vida familiar me preencheram. E, claro, os campeonatos que o Benfica ganhou…

Qual a sua máxima preferida?
«Cá se vai andando, com a cabeça entre as orelhas…» (roubado ao Sérgio Godinho).

Onde (e como) gostaria de viver?
Aqui, em Portugal… em Lisboa ou na Região Oeste…; no estrangeiro, em França, Reino Unido ou Toscana.

Qual a sua cor preferida?
Azul (exceto clubística, como já referi).

Qual a sua flor preferida?
Rosa.

O animal que mais simpatia lhe merece?
Cão.

Que compositores prefere?
A lista é longa demais. Desde música clássica (menos a contemporânea), que é o meu alimento cerebral, até música popular brasileira, “chanson” francesa, os anglo-saxónicos dos anos 80 e 90 e os espanhóis, sobretudo bascos. E, claro, os portugueses, desde os fadistas a Abrunhosa, Sérgio Godinho, Fausto, Palma… eu sei lá.

Pintores de eleição?
Muitos. Fazer um curso de História da Arte na SBA deu-me uma visão renovada da pintura e escultura. Os impressionistas em geral, como Pissarro ou Monet, Picasso, Amadeo, Munch, Breughel… é impossível listar. Gosto, sobretudo, de ver um quadro que me atrai e demorar-me a “conversar” com ele a contemplá-lo. Vou de vez em quando ao Museu de Arte Antiga “conversar” com as “” de Bosch.

Quais são os seus escritores favoritos?
Muito difícil dizer: são tantos… desde BD a clássicos, tenho perto de 6000 livros… é impossível dizer um, até porque depende do estado de espírito.

Quais os poetas da sua eleição?
Pessoa, Sophia, Eugénio de Andrade e muitos muitos outros.

O que mais aprecia nos seus amigos?
Boa disposição, lealdade e não estarem sempre a tentarem impingir-me ideias, mas, pelo contrário, dialogarem e contraporem as suas, mas não como quem vende um automóvel. Mesmo que esteja muito tempo sem os ver, saber que posso contar com eles.

Quais são os seus heróis?
Politicamente, Mário Soares e Olof Palme. Depois, há-os muitos, até de ficção…

Quais são os seus heróis predilectos na ficção?
Blake&Mortimer, Poirot, Corto Maltese, Bernard Price.

Qual a sua personagem histórica favorita?
Diversas… depende muito dos contextos e das circunstâncias, desde a História às várias faces da Ciência.

E qual é a sua personagem favorita na vida real?
O meu cão – que não se ofendam os humanos, incluindo a família, mas como não posso nomear todos e todas, fica aqui um representante do que é a amizade e a cumplicidade.

Que qualidade(s) mais aprecia num homem?
Honestidade, humildade, simplicidade, frugalidade.

E numa mulher?
Beleza, inteligência, argúcia, afeto e carinho, sedução, charme… e não dar gargalhadas sonoras nem fumar.

Que dom da natureza gostaria de possuir?
Saber pintar.

O que é para si o cúmulo da miséria?
Uma vida sem objetivos, sem esperança, repleta de mágoas, sem memórias de que pelo menos alguém, um dia, nos quis bem e sente a nossa falta.

Quais as falhas para que tem maior indulgência?
Esquecimentos ocasionais, “cabeça-no-ar”, desarrumação, porque eu próprio sou um bocadinho assim.

Qual é para si a maior virtude?
Frugalidade, honestidade, respeito pelos outros, humor, rigor ético e estético. Detesto a estupidez, a jactância, a superficialidade e arrogância dos narcisistas.

Como gostaria de morrer?
De preferência sem os aspetos mórbidos de dores, máquinas, etc., com a família mais íntima e, sobretudo, com o meu cão ao colo. Já agora, como Tchekov, com um copo de champagne e dizer «Ich sterbe!» (Morro!) – sempre assumia um ar mais melodramático!

Se pudesse escolher como regressar, quem gostaria de ser?
Não sei… provavelmente um cão: um Retriever ou um Parson-Terrier. “Arrafeirados”, se possível, e resgatados de um canil.

Qual é o seu lema de vida?
Roubo ao Sérgio Godinho: «Já fizemos tanto e tão pouco».
__________

Mário Cordeiro na “Novos Livros” | Entrevistas