Miguel Castro Caldas: “Para além de ter a forma de um livro,  é mesmo um livro”

1-O que representa no contexto da sua obra de dramaturgo o livro “Se não espalmar, fica solto”?
R-Enquanto organizava os textos que iam entrar no livro, que eu queria que não fosse só feito de peças de teatro – tem estranhos ensaios, um conto, e até uns poemazitos –  apercebi-me de que havia lógicas, sentidos e ligações internas entre eles. Então o meu esforço foi prendê-los uns aos outros tal como se faz com os cadernos dos livros, que se cosem agarrados a uma lombada com uma capa. Ou seja, acho que Se Não Espalmar, fica Solto, para além de ter a forma de um livro,  é mesmo um livro. E decerto modo acho que isto é uma reflexão profunda sobre o teatro, na medida em que me parece que o papel do texto hoje no teatro se assemelha ao que foi a ascensão do género Romance no séc. XVIII e XIX, que aglutinava os outros géneros literários. Hoje, no teatro todos os géneros literários e não-literários, podem constituir um espectáculo de teatro. Há escritores que escrevem a partir de ficções, há outros que escrevem a partir da sua vida, eu faço as duas coisas e mais uma: escrevo a partir de espectáculos de teatro.

2-Quando escreve uma peça de teatro pensa primeiro no palco e na representação ou prefere escrever e, depois, ver se funciona em cena?
R-Escrevo durante o processo de montagem de um espectáculo. À medida que vou escrevendo, vou discutindo, experimentando, corrigindo e desenvolvendo com os meus colegas, primeiros leitores críticos, que são os actores, os cenógrafos, os desenhadores de luz, de preferência escolhidos por mim. Para mim, o mais parecido com isto era a oficina onde Alexandre Dumas escrevia os seus romances, com a sua equipa de assistentes. Mas o texto publicado não é necessariamente o texto que foi escrito para o espectáculo. O texto publicado é um trabalho posteiror. Trata-se de um texto para ser lido, primeiro por mim, depois pelos leitores, que como eu, estão mais ocupados nas suas vidas diárias do que em encenar espectáculos. Não gosto que se pense num texto de teatro como uma receita para fazer alguma coisa, mas mais como uma descrição, ou uma narrativa, ou uma imitação de algo que já aconteceu.

3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R-Coisas que ainda não sei.
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Miguel Castro Caldas
Se não espalmar, fica solto
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