“Para muitas famílias, falar de dinheiro ainda é um assunto delicado”

1-Qual a ideia que esteve na origem deste novo livro «Poupar, investir e gastar»?
R-A ideia nasceu da combinação da experiência prática de mais de 25 anos a trabalhar nos mercados financeiros com a exigência académica de explicar conceitos complexos de forma clara e rigorosa. Queríamos transformar esse knowhow acumulado — tanto da atuação diária em mercados e gestão de ativos como da investigação e ensino universitário — num manual acessível e aplicável ao quotidiano dos portugueses. O objetivo foi criar um guia prático, sem jargão, que junte a visão do profissional de mercado e a perspetiva pedagógica do professor, ajudando o leitor a construir um fundo de emergência sólido, escolher investimentos simples e eficientes e gastar de forma a maximizar o seu bem‑estar financeiro ao longo da vida.

2-Em termos de literacia financeira, como podemos avaliar a situação em Portugal?
R-Em Portugal já se nota mais atenção ao tema das finanças pessoais, mas a literacia financeira continua baixa em comparação com outros países da Europa. Para muitas famílias, falar de dinheiro ainda é um assunto delicado, quase um tabu, e isso dificulta a transmissão de hábitos saudáveis de poupança e gestão. Apesar disso, há sinais positivos: cada vez mais pessoas procuram alternativas aos depósitos tradicionais e cresce o interesse por produtos como os ETFs, que permitem investir de forma diversificada e com custos geralmente mais baixos. Ao mesmo tempo, surgem os chamados finfluencers — criadores de conteúdo sobre finanças nas redes sociais, muito seguidos pelos mais jovens. O problema é que nem sempre o que partilham é transparente ou explica bem os riscos, os custos escondidos ou os conflitos de interesse. Por isso, já houve necessidade de criar regras e ferramentas de supervisão. O mais importante é não tomar decisões financeiras apenas com base em vídeos, posts ou conversas informais. O ideal é procurar informação em fontes oficiais, realizar formação certificada credível ou pedir aconselhamento profissional. Lembre-se: as suas poupanças são o seu futuro. Cuide delas com atenção e responsabilidade.

3-Num tema complexo, quais são as três principais recomendações que todos deveríamos seguir na gestão do nosso dinheiro, sobretudo em situações de consumo?
R-Primeiro: Crie um fundo de emergência primeiro. Antes de projetar investimentos ou compras importantes, assegure-se de ter liquidez equivalente a 3–6 meses de despesas essenciais. Isso evita vender investimentos em momentos maus e protege a sua estabilidade financeira. Segundo: Pense em termos de objetivo e custo total. Antes de comprar, identifique o propósito (necessidade vs. desejo) e calcule o custo total (juros, manutenção, subscrições associadas). Produtos com desconto aparente podem sair mais caros quando somados todos os custos. Terceiro: Diversifique e automatize o investimento. Não concentre tudo num único produto financeiro; use mecanismos simples de diversificação (por exemplo, fundos de investimento ou ETFs em diversas classes de ativos) e automatize mensalmente poupança e investimento para tornar o comportamento financeiramente saudável e eficaz.
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José Nuno Sacadura/Sérgio Paulo Candeias
Poupar, Investir e Poupar
Edições Sílabo  25,90€

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