Paulo José Miranda: “O acto de ler, que me parece cada vez mais um acto subversivo”
A novela “Natureza Morta” de Paulo José Miranda recebeu o Prémio José Saramago de 1999. Desde essa data, publicou vários livros (prosa, poesia) e recebeu outros prémios. Acaba de sair “Máquinas de Ficção”, um livro que pode não ser fácil de classificar mas que é um prazer de ler. O autor diz que “é acima de tudo um exercício de ficção” que dialoga com o romance, o conto, a crónica literária ou a não-ficção. A ler.
[Fotografia: Vitorino Coragem]
__________
P-O que representa no contexto da sua obra literária o livro “Máquinas de Ficção”?
R-O livro representa uma continuidade. Mais uma tentativa de dialogar com o que se conhece apenas em forma de suspeita. A realidade enquanto ficção, a ficção enquanto realidade, a identidade enquanto ficção que se constrói, a criação como mistério. Acima de tudo, o fascínio pelo desconhecido. Num mundo onde cada vez mais tudo se sabe e todos têm certezas, o que me fascina é o quanto nós não sabemos daquilo que sabemos.
P-Qual a ideia que esteve na origem do livro?
R-A leitura. O acto de ler, que me parece cada vez mais um acto subversivo.
P-Uma dúvida de um leitor aflito: onde arrumar este seu livro depois de o ler. Em que estante: romance, crónica literária, contos, não-ficção… onde?
R-O livro é acima de tudo um exercício de ficção. E se tiver sido levado a cabo com eficácia, encontrá-lo-emos em diferentes estantes, pois este exercício de ficção dialoga com todas essas formas que mencionou.
P-Entretanto, já passaram mais de 25 anos sobre a atribuição do Prémio José Saramago [Natureza Morta, 1999]: como olha para essa novela e de que forma influenciou a sua vida de escritor?
R-Essa novela continua a ser uma obra que é parte de um tríptico dedicado aos criadores do século XIX em Portugal. Neste caso em particular, o compositor João Domingos Bomtempo. As minhas obsessões enquanto escritor e enquanto leitor já se encontram lá: a pergunta acerca do que é ficção e do que não é ficção, a leitura como motor de arranque da existência, as perguntas pela vida, pela morte, pelo acto de criar… Esse prémio influenciou muito a minha vida por várias razões. Talvez a que valha agora a pena mencionar é o facto de ainda hoje, passados quase 26 anos, ainda me perguntarem acerca disso. Não conheço muitos prémios que suscitem essa curiosidade.
P-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R-Estou sempre a escrever, mas nunca sei o que depois aproveito para publicar e o que deixo por publicar.
__________
Paulo José Miranda
Máquinas de Ficção
Editorial Caminho 16,90€