Rúben Castro: “O livro foi pensado especialmente para os mais novos”
1-Qual a ideia que esteve na origem deste seu novo livro “A Nossa Europa”?
R-A história deste livro começa com o facto de ter sido escrito em coautoria com o Carlos Diogo Pereira. No ano passado, também com edição da Imprensa Académica – uma editora madeirense –, o Carlos Diogo lançou “A Nossa Assembleia”, um livro onde procurou explicar, de forma acessível, o funcionamento da democracia em Portugal e na Região Autónoma da Madeira, clarificando as relações entre os diferentes órgãos da República e da Região. “A Nossa Europa” pode ser vista como um complemento a essa primeira obra. Desta vez, alargamos o olhar ao contexto europeu, falando da origem do projecto europeu e do funcionamento das suas instituições, mas também do papel que a União Europeia tem no nosso dia-a-dia.
2-Apesar do peso que tem nas nossas vidas e na nossa sociedade como explica o ainda grande o desconhecimento sobre a realidade concreta da União Europeia e das suas múltiplas facetas (funções, instituições, etc.)?
R-Na minha opinião, este desconhecimento resulta de uma combinação de vários factores. Não sendo possível referir todos, destaco alguns que considero particularmente relevantes. Em primeiro lugar, há uma clara falta de exposição mediática. Fala-se pouco sobre a União Europeia nos meios de comunicação social, tanto em profundidade como com regularidade. Durante o período das eleições europeias, há de facto um maior esforço informativo, com campanhas, entrevistas a eurodeputados e debates sobre políticas europeias. No entanto, esse momento é cíclico e ocorre apenas de cinco em cinco anos. Fora desse período, a Europa tende a desaparecer da agenda mediática. Paradoxalmente, temos muitas vezes mais acesso à política norte-americana: não é raro encontrar quem saiba explicar o funcionamento do colégio eleitoral dos Estados Unidos, mas poucas pessoas conseguem distinguir entre o Conselho Europeu e o Conselho da União Europeia, ou indicar quantos eurodeputados Portugal elege. Ou, de uma maneira mais simples: sabem quem é o presidente dos Estados-Unidos, mas não a presidente da Comissão Europeia. Outro factor é a distância física das instituições europeias. Resido atualmente em Bruxelas e é frequente ver grupos organizados, sobretudo de países como a Alemanha, França ou Países Baixos, a visitar as instituições, a participar em debates, a envolver-se. Esse contacto direto ajuda a aproximar os cidadãos das estruturas de poder. Para quem vive em países periféricos, esse acesso é mais limitado. Dou o meu próprio exemplo: nasci na ilha da Madeira, uma região ultraperiférica. As visitas de estudo que fizemos foram sempre locais, nunca saímos da ilha, o que naturalmente dificulta o contacto com a realidade europeia (e, às vezes, até nacional). A forma como os políticos nacionais comunicam os assuntos europeus também contribui para esta distância. Lembro-me, desde jovem, de reparar que muitas obras públicas, como escolas, por exemplo, foram financiadas por fundos europeus, mas essa informação raramente era destacada. Há, muitas vezes, uma certa relutância em reconhecer o papel da União Europeia no financiamento de projetos locais, o que cria a ilusão de que esses avanços são exclusivamente mérito dos governos nacionais e regionais. No entanto, a verdade é que a União Europeia tem um impacto profundo e direto nas nossas vidas. No livro, damos exemplos concretos: o fim das taxas de roaming nas telecomunicações, a obrigatoriedade de um carregador universal (USB-C), ou a possibilidade de circular livremente entre países do Espaço Schengen sem mostrar passaporte nem parar em fronteiras. Tudo isto são decisões políticas tomadas a nível europeu, mas que nem sempre são percebidas como tal.
3-É uma obra vocacionada e bem para os mais novos: será essa uma forma de através das crianças e dos jovens fazer chegar as bases dessa informação a um público mais vasto?
R-O livro foi pensado especialmente para os mais novos e, por isso, procurámos adotar uma linguagem acessível, clara e cativante, sem nunca comprometer o rigor da informação. A colaboração com a ilustradora Eva Polo foi fundamental nesse sentido. As ilustrações não só complementam o texto, como ajudam a dar vida a espaços emblemáticos, como o hemiciclo de Estrasburgo ou o Parlamento Europeu em Bruxelas, tornando a leitura mais apelativa e envolvente. Esperamos que este livro possa ser um ponto de partida para conversas, tanto na sala de aula como em casa, e que incentive os mais jovens a falar sobre a Europa, desafiando também os menos jovens a refletirem sobre estes temas. Ainda assim, acreditamos que esta obra é igualmente útil para um público adulto. Queremos que quem a leia compreenda a importância do projeto europeu, perceba como funcionam as suas instituições, reconheça o impacto concreto que têm no seu dia a dia e desenvolva um verdadeiro sentimento de pertença à União Europeia. E, mais do que isso, que no futuro se envolva, que vote, que participe e que debata políticas europeias.
__________
Rúben Castro
A Nossa Europa
Gaudeamus 16,80€