Silvério Manata: “Criar personagens que retratem a Gândara”
1-O que representa no contexto da sua obra literária o livro “Caramelos de Amargar”?
R-O propósito de dar continuidade a um projeto iniciado há oito títulos. O de, pela literatura, criar personagens que retratem a Gândara, personagens que acrescentem valor à história não oficial da região. Porque acredito que as palavras escritas, além de expressarem a minha paixão honesta pela arte da ficção, sejam mais eficazes do que as das páginas de História, teimo em recorrer à linguagem ficcionada para contrariar o esquecimento; para evitar que a memória do gandarês e do chão em que mutuamente se moldaram não se perca.
2-Qual a ideia que esteve na origem do livro?
R-A partir do projeto de um conto, o plano narrativo foi crescendo na vontade de homenagear a casta dos Caramelos, gente anónima a quem a penúria obrigou a trocar as areias estéreis da Gândara pela charneca da região de Palmela. Mas concebendo-os numa perspetiva onde não coubessem heróis, que me interessam cada vez mais as personagens rudes, plebeias e imperfeitas, como as geografias de onde são oriundas ou onde moram. Sem perder de vista a ideia inicial fui construindo os Caramelos, confrontando-os com a inquietude dos temas da atualidade e de outros que, de tão universais e duradoiros, a transcendem.
3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R-Dando continuidade à minha matriz gandaresa e interessando-me cada vez mais por personagens com o estatuto de anti-herói, vou tecendo uma narrativa que tem em conta as peripécias inerentes à condição humana; uma narrativa que não quero moralizante ou amena e, tampouco, dê respostas. Talvez, esperança.
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Silvério Manata
Caramelos de Amargar
Gradiva 16€
Silvério Manata na “Novos Livros” | Entrevistas