Abel Mota: “Escrever, escrever, escrever”
Abel Mota acaba de receber o Prémio Nacional de Literatura Lions de Portugal com seu livro sobre os últimos dias de Mário de Sá-Carneiro: Um Pouco mais de Sol. Abel Mota é professor. Além disso, é investigador sobre a obra poética de António Botto e o Modernismo português. Retrato Imperfeito tinha sido seu romance de estreia, em 2022 mas também escreve poesia, novelas infante-juvenis e contos.
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O que é para si a felicidade absoluta?
Escrever, escrever, escrever.
Qual considera ser o seu maior feito?
Superar a minha condição de raiz, a pobreza.
Qual a sua maior extravagância?
Fazer várias viagens ao ano e estar sempre pronto para voltar a viajar.
Que palavra ou frase mais utiliza?
«Empatia».
Qual o traço principal do seu carácter?
A resiliência, sem dúvida.
O seu pior defeito?
O mau humor.
Qual a sua maior mágoa?
Talvez já esteja resolvido em termos de mágoas. Ou pelo menos é o que eu digo. Mas se tivesse de escolher uma mágoa, seria esta: o carinho que não recebi na infância, a falta de abraços e de palavras bonitas.
Qual o seu maior sonho?
Viajar para o Taiti. Sempre achei que o Taiti fosse o lugar onde terminaria a minha vida. Talvez por isso ainda não tenha feito tal viagem.
Qual o dia mais feliz da sua vida?
Coleciono alguns, não muitos. À queima-roupa, diria que, além do casamento e do nascimento dos filhos, os melhores foram aqueles em que consegui voltar a falar com quem me magoou.
Qual a sua máxima preferida?
«Carpe diem».
Onde (e como) gostaria de viver?
Gostaria de viver em Cabo Verde, como cabo-verdiano, com tempo suficiente para ler e escrever e passear e comer peixe e legumes.
Qual a sua cor preferida?
O amarelo.
Qual a sua flor preferida?
As rosas, de todas as cores.
O animal que mais simpatia lhe merece?
O meu peixinho beta que tenho num aquário atrás da minha secretária.
Que compositores prefere?
Jacques Brel, Zeca Afonso, Caetano Veloso.
Pintores de eleição?
Colocaria no pódio Eugène Delacroix (escrevi um romance sobre este pintor), Picasso e Alice Bailly (sobre os quais também escrevi).
Quais são os seus escritores favoritos?
Sem dúvida, Gustave Flaubert, Émile Zola, Guy de Maupassant.
Quais os poetas da sua eleição?
Charles Baudelaire, Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro.
O que mais aprecia nos seus amigos?
A honestidade intelectual; a disponibilidade.
Quais são os seus heróis?
Na vida real, não tenho heróis.
Quais são os seus heróis predilectos na ficção?
Na ficção, os meus heróis são aqueles sobre quem escrevo: Mário, Toninho, Eugène. Mas se pensar na ficção dos outros, talvez deva referir Vasco da Gama, Ulisses, Eneias.
Qual a sua personagem histórica favorita?
Nelson Mandela.
E qual é a sua personagem favorita na vida real?
Malala Yousafzai.
Que qualidade(s) mais aprecia num homem?
A verdade e a empatia.
E numa mulher?
Idem.
Que dom da natureza gostaria de possuir?
O som e o silêncio.
O que é para si o cúmulo da miséria?
Depender da caridade.
Quais as falhas para que tem maior indulgência?
Pequenos esquecimentos e distrações.
Qual é para si a maior virtude?
O amor traduzido em atos.
Como gostaria de morrer?
Não gostaria de morrer. Mas se tiver de ser, gostaria de ser levado ao cemitério num burro ajaezado à andaluza e acompanhado por palhaços, acrobatas e uma banda filarmónica.
Se pudesse escolher como regressar, quem gostaria de ser?
Gostaria de voltar a ser eu próprio para ler os livros que escrevi e continuar a escrever. Já agora, sem algumas pequenas imperfeições.
Qual é o seu lema de vida?
Além do «carpe diem», outro lema é «Por vezes, é preciso mentir».
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Abel Mota na “Novos Livros” | Entrevistas