Álvaro Garrido: “A economia social terá um futuro pujante”

1-Qual a ideia que esteve na origem deste seu livro «Uma História da Economia Social»?
R-Não havia uma breve história do conceito e das práticas de economia social. Não existia essa síntese em Portugal nem tão pouco em França ou no Reino Unido. Acresce o número de potenciais leitores que entrevi nas minhas aulas de economia social na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, cuja pós-graduação inclui, desde 2012, um módulo temático de perspectivas históricas. Além disso, tive a ousadia de ensaiar uma história intelectual de um conceito que nunca foi linear nem isento de controvérsia e que, no século XIX, o seu tempo de incubação, dialogou com outras doutrinas sociais e disputou o seu espaço nas soluções que os trabalhadores e os académicos procuraram para a “questão social”.  Acresce o meu apreço pelos temas de História Social e pelas “arqueologias” do Estado-Providência, cujo diálogo com as formas de economia social (com o mutualismo, em particular) foi sempre tenso

2-Do seu ponto de vista, quais são os grandes marcos da história da Economia Social em Portugal?
R-O contexto mais marcante encontra-se no século XIX e até ao termo da I República, em 1926. Esse é o período fulgurante dos debates doutrinais que ocorreram nas associações, na fábrica, na oficina e na Universidade em torno da ideia de uma economia que rompesse a concepção redutora do liberalismo, uma “economia das riquezas”, pouco interessada em socializar bens e serviços comuns e em construir formas de democracia económica. Nesse tempo largo, a realidade mais fulgurante encontramo-la no movimento mutualista. Ainda nesse arco temporal, temos um outro acontecimento fundamental: a criação do Instituto de Seguros Sociais Obrigatórios, em 1919, obra do socialismo republicano que cavou tensões com o movimento mutualista e que soçobrou perante a ditadura de Salazar. Depois, a longa noite do salazarismo corporativista e as suas contradições, nomeadamente a cooptação instrumental das cooperativas e das mutualidades.  Por último, o triunfo democrático da economia social e o seu reconhecimento pelo Estado-Providência democrático depois do 25 de Abril de 1974.

3-O peso das organizações da Economia Social na sociedade portuguesa tem sido enorme: como antecipa a sua evolução futura?
R-É uma realidade capilar cuja acção é decisiva para a coesão social do país numa dinâmica de forte complementaridade com as políticas sociais públicas. Devido ao agravamento das desigualdades e aos desafios da sustentabilidade ambiental, considerando as exigências do desenvolvimento local e a forma como devemos valorizar a inovação social e as práticas solidárias de organização económica e social, a economia social terá um futuro pujante. Importa, porém, evitar a sua desconfiguração e observar atentamente o seu património de valores.
__________
Álvaro Garrido
Uma História da Economia Social
(Edição revista e aumentada)
Tinta-da-China  17,90€

COMPRAR O LIVRO