Ana Paula Jardim e o trabalho da memória

Roupão Azul, o primeiro livro de Ana Paula Jardim, recebeu, em Maio de 2021, o Prémio Literário Glória de Sant’Anna.  Desde 2012 que este prémio reconhece, anualmente, o melhor livro de poesia em língua portuguesa. Ana Paula Jardim «cativou e surpreendeu» o júri do prémio com a sua obra de estreia entre uma lista de oito finalistas onde constavam nomes como José Luís Peixoto e João Luís Barreto Guimarães.
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1-«Roupão Azul» é o seu primeiro livro de poesia: como espera poder olhar para ele daqui a 20 anos?
R- Sinceramente não sei responder a essa questão. Pensá-lo seria pensar-me daqui a 20 anos… e, neste momento, estou demasiado no presente.  Ainda é difícil falar sobre este livro porque estou muito embrulhada nele. É preciso criar um distanciamento. Julgo que com o passar do tempo e dos anos a reflexão que vou fazer será muito diferente da atual que ainda está muito ao nível da pele. Será, talvez, o que é: apenas um primeiro livro, o primeiro passo de um caminho que sempre quis fazer. Vamos ver. Estou muito mais interessada no processo, ver até onde consigo ir.

2-Qual a ideia que esteve na base desta obra?
R- A minha poesia trabalha muito a memória. Não só a memória real, mas a dimensão ficcional. A memória é sempre um cruzamento destas duas componentes. Assim como a escrita. É, por isso, quase um filtro, um mergulho num olhar que tem muito de criança, mas também de mulher adulta. Foi, acima de tudo, uma revisitação interior. A narrativa que estrutura o livro e os poemas parte, sobretudo, desta memória que inclui não só pessoas, sentimentos fortes, ligações, mas imagens avassaladoras. Que ficam na retina e explodem em palavras. Depois existem algumas personagens históricas, mas também anónimas que marcaram uma fase da minha vida e que fazem parte do tecido histórico da minha cidade. Assim, a voz de alguns dos meus poemas é uma voz mais universal: poderá ser a minha ou de qualquer uma destas personagens, incluindo todas as vozes anónimas que se fundem na delas.

3-Pensando no futuro. o que está a escrever neste momento?
R- Estou sempre a escrever. A poesia é algo que me acontece naturalmente. Diria mesmo que tem qualquer coisa de compulsivo. Como projetos de futuro estou, neste momento, a organizar um segundo livro de poesia. Talvez ainda com alguma roupagem poética do primeiro, mas com uma arquitetura conceptual e narrativa diferentes. Será uma grande metáfora de um lugar, de um espaço e de inúmeras personagens literárias e reais.  Tenho, ainda, como grande objetivo escrever um romance que já iniciei. Este é, aliás, o meu grande projeto: iniciar-me no romance, saber se sou romancista. É um caminho que quero fazer.
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Ana Paula Jardim
Roupão Azul
Guerra e Paz  10€

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