António Brito: “Constatar o abandono a que o Estado português votou os homens que combateram em África”
1-O que representa, no contexto da sua obra, o livro “Sagal: Um Herói feito em África”?
R-Representa a consolidação dos temas que têm como pano de fundo as temáticas africanas do período da Guerra Colonial, um período difícil que marcou toda uma geração. Sagal é o nome de guerra de Emiliano Salgado, nascido na Mouraria, em Lisboa, protagonista das histórias do livro. Sagal foi também o nome do antigo aquartelamento do exército português na floresta do Planalto dos Macondes, no norte de Moçambique, de onde emergiu a alcunha de Emiliano. Com isso quis dar visibilidade ao soldado anónimo, ao simples soldado daqueles anos de guerra que a narrativa oficial não registou. A História regista nomes de generais e almirantes, figuras proeminentes de políticos, mas raramente dá visibilidade ao soldado desconhecido que marcha na frente de todas as guerras.
2-Qual a ideia que esteve na origem deste romance?
R-Sagal é uma trilogia composta pelos títulos “Um herói feito em África”, “O profeta do fim” e “Fábrica de viúvas”. A ideia de escrever esta trilogia nasceu ao constatar o abandono a que o Estado português votou os homens que combateram em África. Treinou-os para a guerra quando deles precisou, e abandonou-os à sua sorte depois da desmobilização. Os mais capazes deram a volta às dificuldades e encontraram um rumo para as suas vidas. Os menos capazes, os traumatizados, os feridos ou sem um propósito de vida, sobreviveram de biscates, trabalhos de ocasião, marginalidades, ou procuraram nas ruas uma vida sem-abrigo. Outros, como Sagal, foram vendendo a soldo de quem melhor lhes pagasse a força e o destemor trazidos da guerra, tornando-se guarda-costas, seguranças, ou força bruta para resolver conflitos que as autoridades não conseguiam resolver pelas vias legais.
3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R-Neste momento dou continuidade a diferentes projectos com temáticas muito diversas. E estou a ampliar a visibilidade da minha obra para lá das fronteiras de Portugal, expandindo-a para o mundo que fala português, tirando partido das oportunidades que o digital e as tecnologias oferecem. E estou focado na conclusão do livro em que venho trabalhando nos últimos cinco anos, livro de ficção, mas assente na nossa realidade histórica.
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António Brito
Sagal: um Herói Feito em África
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