António Cabrita: “Maior sonho? Escrever um livro que me traga o silêncio.”

António Cabrita foi crítico e jornalista. Depois, continuou a escrever e tem mais de trinta e muitos livros publicados. Recebeu o Prémio PEN (2018) com Anatomia Comparada dos Animais Selvagens. Em 2023, fez parte da shortlist do Prémio Literário Casino da Póvoa, com Tristia. Também escreveu duas peças para a actriz Maria João Luís. Acaba de publicar mais um livro de poesia: Bicho Carpinteiro.
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O que é para si a felicidade absoluta?
Desconheço, só enfrentei alegrias momentâneas.

Qual considera ser o seu maior feito?
Ter feito cinco filhas, todas bonitas e muito mais inteligentes do que o pai.

Qual a sua maior extravagância?
Continuar a acreditar no poder e na benignidade da poesia, depois de cinquenta anos a conhecer a triste personalidade dos poetas.

Que palavra ou frase mais utiliza?
Não entendo as pessoas que dizem que só se morre uma vez.

Qual o traço principal do seu carácter?
A maleabilidade, mantendo o carácter.

O seu pior defeito?
Ser pífio de ambição.

Qual a sua maior mágoa?
Não conseguir explicar que a falta de ambição não é desinteresse.

Qual o seu maior sonho?
Escrever um livro que me traga o silêncio.

Qual o dia mais feliz da sua vida?
Hesito entre inúmeros, mas referem-se a factos de vida.

Qual a sua máxima preferida?
Não tenho.

Onde (e como) gostaria de viver?
Na Itália, na Toscana, fazendo o que faço hoje.

Qual a sua cor preferida?
O verde.

Qual a sua flor preferida?
Orquídea.

O animal que mais simpatia lhe merece?
O cão.

Que compositores prefere?
Mahler, Messiaen, John Surman, John Zorn.

Pintores de eleição?
Picasso, Rauschenberg, Roberto Matta, Júlio Pomar, Cornelia Parker.

Quais são os seus escritores favoritos?
Camilo José Cela, Julio Cortazar, Virginia Woolf, Paul Auster, John Berger.

Quais os poetas da sua eleição?
Isso, mais do que um painel é uma duna muito ambulante, mas eis os constantes: Ovídio, Rilke, Pessoa e Vitorino Nemésio.

O que mais aprecia nos seus amigos?
O humor e a franqueza.

Quais são os seus heróis?
Buda, Lawrence da Arábia, Corto Maltese.

Quais são os seus heróis predilectos na ficção?
Dom Quixote, Lord Jim, e o Capitão MacWhirr, de O Tufão, de Joseph Conrad.

Qual a sua personagem histórica favorita?
Richard Wilhelm, padre jesuíta, tradutor alemão do I Ching, que esteve trinta anos na China e que quando lhe perguntaram sobre o que mais se orgulhava na sua vida respondeu: “não ter feito uma única conversão cristã na China!”.

E qual é a sua personagem favorita na vida real?
Wiston Churchill.

Que qualidade(s) mais aprecia num homem?
A coragem e a honestidade.

E numa mulher?
Porque havia de ser diferente?

Que dom da natureza gostaria de possuir?
A estabilidade dos seus ritmos.

O que é para si o cúmulo da miséria?
A crença de sermos tão ricos que acabamos por consentir que, sem regras nem escrúpulos, selvaticamente, aumentem o número de ricos, que brotam como cogumelos venenosos.

Quais as falhas para que tem maior indulgência?
O ciúme.

Qual é para si a maior virtude?
Uma inteligência emocionalmente calibrada.

Como gostaria de morrer?
Em astronauta, olhando a Terra de que a minha nave se aproximava

Se pudesse escolher como regressar, quem gostaria de ser?
Eu, em poliglota.

Qual é o seu lema de vida?
Viver custa mas é fantástico.
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António Cabrita na Novos Livros | Entrevistas