Francisco Moita Flores: “Uma metáfora sobre a crise de identidade que atravessamos”
1-O que representa, no contexto da sua obra literária, o livro Agora e na Hora da Nossa Sorte?
R-Aquilo que vejo em comum com os restantes livros da minha obra literária é o fascínio pela história das mentalidades, o cruzamento da longa duração da história com o seu tempo breve. É uma pintura impressionista que recria uma aldeia alentejana, na Costa Vicentina, centrada em seis personagens que se encontram para apostarem em conjunto no Euromilhões. E acontece que ganham o primeiro prémio, arrecadando 50 milhões de euros. Só que…esse dia de glória é também o dia do desastre. Descobrem que a aposta desapareceu. É este o tema que vai colocar em crise as expetativas de cada um sobre tão inesperado desaparecimento.
2- Qual a ideia que esteve na origem deste romance?
R-Agora e na Hora da Nossa Sorte é uma metáfora sobre a crise de identidade que atravessamos. Somos um país cada vez mais envelhecido, culturalmente desnutrido, cada vez mais dependente de outros, sem uma estratégia de desenvolvimento, cruzado pela necessidade de acelerar o tempo, de se libertar das grilhetas da pobreza e, rapidamente, ser um parceiro e não um servil criado de países mais poderosos. Ora, o jogo, qualquer espécie de jogo de fortuna e azar, é a fronteira entre sonhos frustrados e o enriquecimento rápido. Escolhi o Euromilhões como poderia ser a roleta ou a raspadinha. Escrevo sobre essa ansiedade de libertação deste vício de pobreza do qual nunca saímos.
3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R-Ainda é cedo para responder a essa pergunta. Sei que vai ser uma farsa, sei que vai ser fora do nosso tempo histórico. Procuro encontrar-me com uma história e, por isso, estou a investigar.
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Francisco Moita Flores
Agora e na Hora da Nossa Sorte
Publicações. D. Quixote 18,90€
Francisco Moita Flores na “Novos Livros” | Entrevistas