João Pedro Marques: A inovação de um romance passado no futuro

1-O que representa, no contexto da sua obra, o livro «O Prazer de Guiar»?
R- Representa, em primeiro lugar, e quanto ao seu conteúdo, uma inovação, por ser um romance passado no futuro. Representa, também, uma experiência literária, como explico na resposta 3. Representa, ainda, uma reacção contra a automatização e robotização do mundo e contra o envelhecimento, o meu envelhecimento e o da minha geração. Os personagens centrais do meu romance são um homem e uma mulher de 70 anos que não se resignam a aceitar placidamente o mundo automatizado e sem alma, ainda que confortável, em que vivem, e que decidem quebrar as regras e viver uma aventura interdita.

2-Qual a ideia que esteve na origem deste romance?
R- Eu adoro guiar e faço-o, com prazer, desde os meus 19 anos. Os automóveis modernos vêm dotados com cada vez maior frequência de sistemas auxiliares de condução que conferem à máquina (e já não ao condutor) o controlo do veículo. Em paralelo, estão em pleno desenvolvimento experiências com automóveis autónomos, isto é, automóveis sem condutor, e já circulam vários deles nas estradas dos países ocidentais. Em conformidade, imaginei um mundo (que já não estará assim tão distante de nós) substancialmente controlado por máquinas e computadores e onde coisas elementares como a condução estarão proibidas ao comum dos mortais. E a interrogação a que O Prazer de Guiar procura responder nesse contexto é a seguinte: como é que os seres humanos se ajustarão a um mundo desses?

3-Quase todos os seus romances anteriores enquadram-se na categoria de romance histórico. Neste escreve sobre o futuro: o que motivou esta mudança?
R- Escrevi, até agora, seis romances históricos. Por norma construo esse tipo de romance em torno de um grande acontecimento verídico — uma migração, uma epidemia, uma guerra, etc.  Isso significa que esses romances partiram desse grande acontecimento ou assentaram nele como numa plataforma, o que se, por um lado, dificulta o trabalho, já que toda a narrativa ficcional tem de ser coerente com datas e acontecimentos históricos, por outro lado, ajuda a escrita já que fornece logo à partida alguns personagens, alguns factos, algumas tramas a incluir na narrativa. Neste meu novo romance, O Prazer de Guiar, que se passa num futuro próximo, abdiquei desse espartilho e dessa bengala porque quis percorrer um território desconhecido e quis colocar a mim próprio um novo desafio.
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João Pedro Marques
O Prazer de Guiar
Porto Editora  16,60€

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