João Tordo: Os sonhos desgraçam sempre as pessoas

CRÓNICA
| Rui Miguel Rocha

Um thriller que começa no Algarve e culmina nos Estados Unidos. Um livro sobre a angústia da escrita e de como temos de perseverar para não nos esquecermos de nós lá atrás, no sítio da desistência. “Os sonhos desgraçam sempre as pessoas” para os pessimistas. Ou será para os realistas que correm atrás de nada porque está tudo dito e escrito e por vezes até planeado. De qualquer forma os crimes existem e “só há três razões para cometer um crime: sexo, ambição e inveja.”
Pobres coitados dos que se preocupam e tentam em vão ultrapassar a sua humanidade, os seus medos, “toda a gente tem medo. Até as pessoas que parecem não ter medo de nada, essas são as que têm medo do próprio medo.” No fundo é reconfortante, como encontrar algo em comum com alguém que gostamos.
Escritores, ricos, pacóvios e mulheres bonitas. Advogados, polícias corruptos e jornalistas frustrados. Muitas personagens manobradas com mestria, quase como aqueles malabaristas que mantêm tudo a rodar ao mesmo tempo.
Como em todos os romances policiais “são as coisas mais pequenas que acabam por tramar-nos a vida.”
Uma paixão inacabada, um sonho nunca vivido “um homem apaixonado é um perigo, para si mesmo e para os outros.”
Procurar a verdade para quê? Haverá verdade no fim do sofrimento? Para quê o raio da verdade quando “passamos uma vida inteira na periferia de nós mesmos”?
Mas passamos e, ainda assim, que bom cá ter estado.
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João Tordo
A Noite em que o Verão Acabou
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