José Filipe Pinto: “Os novos movimentos sociais apostam sobretudo na mudança do sistema”
1-Qual a ideia que esteve na origem deste seu ensaio “A Europa numa Encruzilhada”?
R-A ideia que esteve na origem deste livro prendeu-se com uma dúvida suscitada pelo anterior: “O Fim da Hegemonia Americana. Um Mundo de Múltiplas Ordens”. De facto, enquanto europeu, fiquei preocupado relativamente ao papel que a União Europeia poderia vir a desempenhar no Mundo de Múltiplas Ordens que está na fase final de construção e, por isso, regressei à investigação na tentativa de encontrar resposta para essa dúvida. Uma investigação que implicou o levantamento dos desafios – internos e externos – que se colocam à União Europeia e das estratégias passíveis de os transformar em oportunidades. Dito de uma forma mais clara: como é que a Europa pode sair da encruzilhada em que se encontra.
2-De acordo com a sua investigação, quais os traços dominantes que caracterizam os novos movimentos sociais mais relevantes na actualidade?
R-Os novos movimentos sociais não devem essa designação ao facto de estarem a surgir na atualidade, ou seja, ao elemento temporal, mas à circunstância de representarem uma profunda alteração relativamente aos movimentos sociais clássicos, embora mantendo uma finalidade política. Assim, os novos movimentos sociais não assentam na ideia de classe e em reivindicações sobretudo ou totalmente do foro laboral e económico. São movimentos cuja base social transcende a estrutura de classes, envolvendo pessoas que se juntam em função de causas associadas a elementos culturais e simbólicos ligados à questão da identidade. Por isso, abrangem temas tão diversos como os problemas ecológicos e os direitos das minorias. Além disso, por norma, atuam fora dos arranjos institucionais ou organizacionais existentes e recorrem a novos padrões de mobilização proporcionados pela evolução das novas tecnologias. Assim sendo, podem permitir-se dispensar as estruturas burocráticas e centralizadas e optarem por estruturas segmentadas, difusas e descentralizadas.
3-Estamos a viver tempos muito complexos a nível mundial e com especial influência nos destinos europeus. Do seu ponto de vista quais são as grandes linhas de desenvolvimento dos movimentos sociais na Europa para os próximos anos?
R-Os novos movimentos sociais apostam sobretudo na mudança do sistema, embora também já sejam identificáveis movimentos de cariz conservador e que lutam pela manutenção do status quo. Assim sendo, a evolução dos novos movimentos sociais não vai ser linear ou homogénea porque, embora a maioria deles privilegie uma essência antissistema, que concebe os partidos como afastados da realidade, também haverá movimentos que aceitam dialogar com os partidos da mainstream se considerarem que podem tirar proveito desse relacionamento. Finalmente, alguns destes partidos acabarão por se transformar em partidos se sentirem que dispõem de apoio social para esse efeito. Partidos essencialmente de nicho e que, quando conseguirem um pecúlio eleitoral mais significativo, tentarão alargar o seu âmbito de atuação, situação que acarretará cisões internas. No entanto, o livro também alerta para a existência de novos movimentos sociais com finalidade criminosa, designadamente as redes de crime organizado e os gangues de rua.
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José Filipe Pinto
A Europa numa Encruzilhada
Edições Sílabo 19,90€
José Filipe Pinto na “Novos Livros” | Entrevistas