Luís Aguiar-Conraria: “De um realismo assustador”

1-No ano do centenário de José Saramago, qual o principal legado do escritor?
R-Ganhar o Prémio Nobel. Por muitas voltas que se dê, não é possível fugir a este prémio. É o primeiro escritor de língua portuguesa a ganhá-lo.

2-Qual é o seu livro preferido escrito pelo nosso Nobel?
R-É difícil responder porque não os li todos. O livro que me agarrou desde a primeira página foi o Ensaio Sobre a Cegueira. É de um realismo assustador. Dá-nos, simultaneamente, uma visão assustadora da humanidade, mas termina com uma nota de esperança. O mais engraçado talvez seja As Intermitências da Morte. Lê-lo é um prazer, porque se percebe perfeitamente que Saramago se está a divertir a escrevê-lo. Como quando a Morte é criticada por escrever sem vírgulas (escrevo de cor, pelo que posso estar a cometer alguma imprecisão). Aquele que teve a melhor ideia de partida, talvez tenha sido o Caim. Caim foi condenado por Deus a uma vida errante. Pô-lo a navegar, quer no espaço quer no tempo, por vários episódios da Bíblia é uma ideia brilhante. Mas a sua concretização talvez tenha sabido a pouco.

3-Razões dessa escolha?
R- Acho que a resposta a esta pergunta está na anterior.
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Luís Aguiar-Conraria, Economista e Autor