Orfeu Bertolami: “Obrigar a refletir sobre os horrores da Segunda Grande Guerra”

1-“A Solução Final” é o seu primeiro romance: como espera poder olhar para ele daqui a 20 anos?
R-O romance foi escrito com o objetivo de retratar e nos obrigar a refletir sobre os horrores da Segunda Grande Guerra. Também procurava frisar como os anos que antecederam esta absurda carnificina humana foram profundamente fecundos do ponto vista científico e cultural. Não obstante, estes extraordinários desenvolvimentos do início do século XX não se materializaram em movimentos sociais de abertura e tolerância, mas, pelo contrário, deram origem a um sentimento obscuro de negação dos valores éticos e humanistas mais elementares. Muito como o que hoje assistimos, o confronto de ideias não deu, então, origem a novas ideias, mas fez recrudescer ódios atávicos e desencadeou uma pragmática guiada por preconceitos e pensamentos primitivos que visavam rebaixar todos os adversários à condição de sub-humanidade. Mas se relativamente aos horrores da Segunda Grande Guerra não foi preciso inventar nada, com relação à microtrama do romance, eu criei uma história paralela envolvendo grandes vultos da física, de modo que estes agiram no meu romance, apesar de coartados, segundo as suas convicções mais profundas. Procurei realçar a conceção de que o humanismo dalguns personagens não foi ofuscado pelas circunstâncias, por mais adversas que fossem.  Tendo em vista, que hoje estamos a assistir a uma acelerada atrofia dos padrões éticos na esfera da ação política e social, eu espero que o meu livro não se transforme, ao retratar um sombrio passado, numa antevisão dum futuro novamente trágico.

2-Qual a ideia que esteve na base desta obra?
R-Como mencionei acima, interligar a História de um mundo em avançado processo de auto-destruição com a história pessoal de personagens reais foi para mim, desde sempre, uma questão essencial. Muito particularmente porque esta ligação está associada à questão da responsabilidade acrescida daqueles que conhecem os factos e que entendem os mecanismos de funcionamento das sociedades. Certamente, os factos importantes só podem ser influenciados de forma significativa por aqueles próximos do poder político. Mas tal constatação não mitiga a responsabilidade, na verdade, a exacerba. As verdadeiras convicções não podem depender do seu alcance político, mas devem sustentar-se a si próprias.

3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R-Atualmente, estou a escrever uma novela de ficção científica que procura refletir os grandes desafios dos nossos tempos. Envolve os grandes desenvolvimentos científicos do nosso tempo, da inteligência artificial à exploração espacial, mas sem nunca abandonar a questão central da responsabilidade individual e coletiva. Mas este é um projeto para os próximos tempos dado que há as aulas, os artigos científicos nas áreas de cosmologia, física do Sistema Terrestre e de dinâmica quântica de populações. E estão em processo de publicação dois outros livros: uma introdução à Teoria da Relatividade Geral a ser publicado pela Universidade do U.Porto Press e uma peça de teatro, “Achamentos”, escrita no milénio passado.
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Orfeu Bertolami
A Solução Final
U.Porto Press  20,70€

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