Rúben Castro: “O importante não é ser, mas tornar-se”

Rúben Castro nasceu em 1990 no Funchal e cresceu entre as ruas de São Pedro e o Bairro da Nazaré. Passou por Pardubice e Lisboa antes de chegar a Bruxelas. Fica incrédulo sempre que lhe perguntam se viver numa ilha não é claustrofóbico. Continua a achar que poucos compreendem a liberdade de ser ilhéu. Às vezes, nem os próprios ilhéus, incluindo ele. Em 2023 publicou o livro infantojuvenil “Vicente Jorge Silva”, uma biografia do primeiro diretor do jornal Público. Em 2024 publicou o seu primeiro livro de poesia, “Quando é que posso voltar a casa?”, onde explora o conceito de casa e pertença. 
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O que é para si a felicidade absoluta?
Estar numa mesa rodeada de amigos. Terminar a minha corrida no Miradouro da Nazaré, no Funchal. Mergulhar na Praia Formosa. Escrever um verso.

Qual considera ser o seu maior feito?
Ter aprendido a sair de mim próprio, a ter uma perspetiva do que me rodeia. Saber pôr em causa e relativizar o que acontece à minha volta.

Qual a sua maior extravagância?
Adquirir livros todos os meses.

Que palavra ou frase mais utiliza?
Também.

Qual o traço principal do seu carácter?
Capacidade de adaptação.

O seu pior defeito?
Andar de mãos dadas com a ansiedade (e alimentá-la).

Qual a sua maior mágoa?
Não é bem uma mágoa, mas gostaria de ter sido jogador profissional de andebol. O pavilhão ainda é um dos sítios onde me sinto completo.

Qual o seu maior sonho?
Poder voltar a casa.

Qual o dia mais feliz da sua vida?
Os dias em que tomo café.

Qual a sua máxima preferida?
Não tenhas medo de cair.

Onde (e como) gostaria de viver?
Perto do mar.

Qual a sua cor preferida?
Azul-cobalto, apesar de também gostar da ausência de cor.

Qual a sua flor preferida?
A flor do jacarandá.

O animal que mais simpatia lhe merece?
O tigre.

Que compositores prefere?
Howard Shore, destacado.

Pintores de eleição?
Por diferentes razões, Artemisia Gentileschi, Anselm Kiefer, René Magritte, Olga Micheli e Claude Monet.

Quais são os seus escritores favoritos?
O meu trio de eleição é Franz Kafka, Milan Kundera e Albert Camus. Numa lista mais alargada poderia incluir Annie Ernaux, Gonçalo M. Tavares, Chico Buarque, João Tordo e Irene Solá (e o Guy Delisle, na banda-desenhada).

Quais os poetas da sua eleição?
Gastão Cruz, Gabriel Celaya, Adília Lopes, Herberto Helder, Mélanie Leblanc e Paulo Leminski são os poetas que mais me dão de beber.

O que mais aprecia nos seus amigos?
A sua inteligência e o seu humor.

Quais são os seus heróis?
Os meus pais.

Quais são os seus heróis predilectos na ficção?
Nakata, de “Kafka à beira-mar”, de Haruki Murakami. Pierrot, de “Les vieux fourneaux”, de Wilfrid Lupano e Paul Cauuet.

Qual a sua personagem histórica favorita?
Diógenes de Sinope.

E qual é a sua personagem favorita na vida real?
O grande Mujica. José Mujica.

Que qualidade(s) mais aprecia num homem?
A empatia.

E numa mulher?
Também.

Que dom da natureza gostaria de possuir?
Não sei se conta, mas gostaria de poder mudar de forma entre os vários reinos naturais.

O que é para si o cúmulo da miséria?
Não saber partilhar.

Quais as falhas para que tem maior indulgência?
Falta de conhecimento.

Qual é para si a maior virtude?
Saber colocar-se no lugar de outras pessoas. Compreensão.

Como gostaria de morrer?
Numa praia de calhau rolado.

Se pudesse escolher como regressar, quem gostaria de ser?
Gostaria de ser uma nespereira.

Qual é o seu lema de vida?
Não sei bem se é um lema, mas esta frase de Kafka está sempre presente na minha cabeça: “Destrói-te para te conheceres. Constrói-te para te surprenderes. O importante não é ser, mas tornar-se.”