Rúben Castro: “Tudo o que me cheira a pão e a casa”
1-“Quando é que posso voltar a casa?” é o seu primeiro livro de poesia: como espera poder olhar para ele daqui a 20 anos?
R-Como aquilo que ele é hoje, um tributo às minhas pessoas-casa, às cidades que me acolheram e, parafraseando a Maria do Rosário Pereira, a tudo o que me cheira a pão e a casa. Espero também olhar com carinho e sem julgar o Rúben de 2024, que decidiu juntar os seus poemas em torno do tema da pertença e que, numa tipografia em Bruxelas, deu vida a esta obra.
2-Qual a ideia que esteve na origem do livro?
R-Considero que a ideia subjacente a este livro é um pedido de encontro comigo mesmo. Mudei-me para a Bélgica em 2017 e deixei uma ilha para trás, ao mesmo tempo que trouxe essa ilha comigo, o que não deixa de ser um paradoxo. A questão que dá o título ao livro, “Quando é que posso voltar a casa?”, gira à volta desse conflito, o de nunca estar completamente em casa e o de tentar compreender o que significa, afinal, estar em casa. Neste livro, olho para as minhas memórias de infância e tento identificar tudo aquilo que me soa a casa: as pessoas, os aromas, os lugares (incluindo o Bairro da Nazaré, no Funchal, onde cresci), as brincadeiras, o desporto, as músicas e tudo aquilo que constitui as minhas fundações, os meus alicerces e o telhado da minha casa interior. É precisamente nesses três elementos que o livro se organiza, como metáforas dos locais onde vivi: Madeira (fundações), Lisboa (alicerces) e Bruxelas (telhado). No final, o livro é um convite aos leitores para que também eles se encontrem e procurem perceber o que lhes transmite esse sentimento de pertença. Porque olhar para dentro de nós é também ir a caminho de casa.
3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R-Neste momento estou a trabalhar em três projetos distintos, cada um num género literário diferente, o que me obriga a escutar vozes diferentes dentro de mim. A ideia mais amadurecida vive no território da poesia e parte de uma inquietação antiga: a forma como nos fomos afastando da natureza e, com isso, de nós próprios. É um livro que nasce de uma reflexão – talvez mais uma tentativa de encontro – e que se debruça sobre a relação entre o ser humano e o mundo natural, em particular com as árvores.
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Rúben Castro
Quando é que posso voltar a casa?
Edição do Autor
Rúben Castro na “Novos Livros” | Entrevistas