Susana Amaro Velho: “Como a intimidade, a memória e os laços familiares moldam o que somos”

1-O que representa no contexto da sua obra literária o livro “As Últimas Linhas destas Mãos”?
R-Representa um aprofundamento do território emocional que tenho explorado nos últimos anos: a forma como a intimidade, a memória e os laços familiares moldam o que somos. É um livro peculiar, porque leva ao limite questões que atravessam a minha obra — identidade, silêncio, fragilidade — mas trabalhadas com uma estrutura mais fragmentada e uma escrita mais poética. Gosto dessa ideia da entrega ao leitor de uma história, não de forma linear, mas em mosaicos. Este livro é, de certo modo, o início, porque é a epígrafe, e dar-lhe novo corpo, inteiramente reescrito, é realmente um passo decisivo: assumo plenamente a minha voz literária, e deixei oficialmente de escrever exclusivamente para mim.

2-Qual a ideia que esteve na origem do livro?
R-Nasceu de uma pergunta simples: o que acontece a alguém quando perde a linguagem que sustentava as suas relações? Interroguei-me sobre como se escreve a ausência antes da perda acontecer, aquele tempo suspenso em que ainda há corpo, mas já não há ligação ao passado, há morte em vida. E quem são os nossos pais antes de existirmos? A partir destas inquietações surgiu a personagem Alice, a família, a narrativa.

3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R-Já existe uma primeira versão de uma nova história pronta, e posso desde já garantir que continuamos em ambientes rurais e a explorar o intricado mundo das relações humanas, temas como o abandono, o luto, e o trauma, ou nem seria um livro meu. Não andamos aqui a inventar a roda, antes a procurar intensidade, e verdade, na forma como contamos as histórias.
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Susana Amaro Velho
As Últimas Linhas destas Mãos
Casa das Letras  18,90€

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