Fernando Cavaleiro Ângelo: “O conhecimento da nossa história (…) é o que nos torna melhores cidadãos”

1-Qual a ideia que esteve na origem do seu livro «As Bombas que Aterrorizaram Portugal»
R-Sempre ambicionei obter mais conhecimento sobre um período da nossa história que, salvo melhor opinião, ainda tem muito por revelar. Parece que existe a necessidade de colocar um «manto» sobre um período extremamente conturbado no pós-revolução, remetendo-o para uma condição de esquecimento conveniente. A pesquisa e análise deste fenómeno de terrorismo de extrema-direita, centrou-se, unicamente, na vontade de dar conhecimento público de um período conturbado na história de Portugal, que não podemos negar a sua aprendizagem às novas gerações. O conhecimento da nossa história, seja ela de melhor ou pior índole, é o que nos torna melhores cidadãos. Podemos orgulharmo-nos dos grandes feitos, tais como a Revolução do 25 de Abril, que devemos preservar viva a sua memória, mas também nos deve motivar e encorajar a condenar e não seguir os exemplos proporcionados por episódios passados de violência e más-práticas. As novas gerações do nosso país têm o direito de saber toda a história, e não apenas os fragmentos ou extratos mais convenientes e de sucesso.

2-Agora que estamos quase a assinalar os 50 anos da revolução de 25 de Abril de 1974, como podemos interpretar o papel e o impacto das acções terroristas da extrema-direita naquela época?
R-Tiveram um enorme impacto, pois desta atividade terrorista resultaram mortes de cidadãos inocentes, destruição de muitas propriedades, e o terror generalizado de uma população recém-saída de uma violenta ditadura de décadas. O papel que se fazia acreditar de uma luta armada não cabia nas definições e interpretações internacionalmente reconhecidas para tal. A visão propalada de uma democracia pluralista não se podia impor por via da violência. O que acabou por vingar foi o diálogo e a normalização democrática imposta por intervenientes mais conservadores que percecionaram que esta via radical iria lançar o país numa situação de caos, que num cenário mais extremo podia descambar para uma guerra-civil.

3-Na pesquisa que realizou e que suporta este livro, quais são os factos mais relevantes que ainda não eram conhecidos da opinião pública?
R-Como exposto na bibliografia do livro, o enorme acervo de documentação consultada nos mais diversos arquivos nacionais, bem como testemunhos de fontes primarias, ainda não tinha sido objeto de análise em outros trabalhos publicados no nosso país. Existem revelações sobre o modus operandi e modus vivendi de um dos grupos que maior atividade teve no período conturbado do pós-25 de Abril. Este grupo, o Movimento Democrático de Libertação de Portugal (MDLP), teve um período de vida bastante curto, mas uma atividade bastante intensa e violenta.
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Fernando Cavaleiro Ângelo
As Bombas que Aterrorizaram Portugal
Casa das Letras  19,90€

Fernando Cavaleiro Ângelo na “Novos Livros” | Entrevistas

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