Leonel Barbosa: “São 19 contos, 19 cartas de amor à Literatura”

1-Que significado tem para si receber este Prémio de Revelação Literária UCCLA/CM Lisboa destinado a novos talentos de língua portuguesa?
R-Poucas circunstâncias poderiam ser mais lisonjeiras no lançamento de um primeiro livro, do que vê-lo acontecer sob a tutela deste prémio. Por um lado, a iniciativa contou com a participação de candidatos de 19 países, a partir dos quais surgiram obras que expressam as várias maturações da língua portuguesa pelo mundo, o que garantiu uma pletora de obras rica em texturas e fragrâncias linguísticas. É uma honra ter escrito um livro que foi integrar este mosaico de vivacidade, e fazer parte, enquanto autor, da grande família da Lusofonia, cujos vínculos são estimulados pela UCCLA e CM de Lisboa. Por outro lado, fiquei francamente atónito com a lista de elementos do júri. Estremeço, como bom neófito, perante a ideia de que os contos do Breviário foram lidos por figuras de proa da literatura lusófona como Germano Almeida, Domício Proença e José Pires Laranjeira. Este é um baptismo de grande valor simbólico, e vem ampliar a alegria de ter, por fim, uma obra de ficção publicada.

2-Qual a ideia que esteve na origem deste livro premiado «Breviário de Medo e Malícia»?
R-Sempre me senti próximo da Língua e dos ofícios que a trabalham. Desde criança que a Escrita exerce em mim um fascínio primevo, devido às insinuações de que me poderia conduzir a um espaço intelectual e emocional muito distinto do mundo concreto. Desde criança que me sinto escritor, mas só depois de terminar a minha especialidade médica, em Otorrinolaringologia, em 2017, pude organizar os meus horários de forma a ter uma dedicação mais estruturada à Literatura. O início da construção do Breviário nasce desse processo de exploração literária e de empenho dirigido ao ofício da escrita. São 19 contos, 19 cartas de amor à Literatura, em que fui experimentando com a forma, com a intenção, com o desenho de personagens. Julgo que os temas de medo e malícia se tornaram inevitáveis considerando o meu imaginário, povoado por figuras semi-mitológicas das colinas do Minho, pela confrontação, na minha profissão e na vida pública, com as facetas do medo, e por uma certa tendência catastrofista e fantasista que expande as possibilidades do quotidiano até o tornar um espaço de fulgor, onde há tanto sagração como aniquilação.

3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R-Tenho uma certa vocação para ter a atenção fragmentada, o que os mais pragmáticos chamariam de “distracção” – e essa característica faz com que me mova em alguns meios em simultâneo. De facto, cerca de dois meses depois de me terem informado acerca do resultado do Prémio da UCCLA/CM de Lisboa, um manuscrito meu de poesia foi galardoado com o Prémio Natália Correia. Chama-se “Egoscopia, ou a Mecânica Geral de Si Mesmo”, e foi também publicado este Verão. Estou, há cerca de um ano a escrever um romance, passado em Lisboa, e que, pela estrutura, número de personagens e espaços, pela abrangência, talvez insensata, dos temas, me está a tomar algum tempo. Simultaneamente estou a escrever poemas, com vista a compor um segundo livro de poesia; e vou escrevendo alguns ensaios que espero poder também reunir em livro.
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Leonel Barbosa
Breviário do Medo e da Malícia
Guerra e Paz  16€

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