Manuela Lobo Vieira: “Quem somos nós, se nunca tivermos sido amados?”

1-“Como uma Seta que é Lançada” é o seu primeiro romance: como espera poder olhar para ele daqui a 20 anos?
R-Acredito que, daqui a 20 anos, poderei olhar para este primeiro livro com nostalgia e carinho. Nostalgia de um tempo em que sentia e escrevia de maneira distinta. Enquanto ser humano e enquanto escritora penso que haverá uma evolução mais intrínseca e complexa do que me move, bem como da forma como o poderei expressar. Com o tempo e com a maturidade, julgo que terei uma identidade literária mais forte e mais vincada. O respeito pelo nosso trajeto, pelo nosso trabalho e pelas nossas escolhas deve ser inequívoco. Olhar para trás deverá ser um ato de humildade, em que nos damos conta de que crescemos e de que poderemos continuar a crescer.
2-Qual a ideia que esteve na origem do livro?
R-A ideia que esteve na origem deste livro foi a criação da personagem principal. Eva surgiu de um impulso para escrever e não de algo concreto e palpável. Foi ganhando forma com atos, conversas e gestos do quotidiano, com receios e incertezas, tornando-se magnânima e coesa dentro de mim. Este ser de contrastes, humano e desumano, de luz e de sombra vai fazer desta personagem uma anti-heroína. Convido o leitor a odiar esta Eva, tal como eu a odeio. Embora esteja distante de todos nós, no entanto, não conseguimos deixar de sentir alguma compaixão por esta personagem disfórica e animalesca. Eva quebra o leitor, carregando uma mensagem muito forte com ela: quem somos nós, se nunca tivermos sido amados?
3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R-Em julho terminei um manuscrito que ainda está em banho maria até decidir o que fazer com ele. Gostaria de concorrer a um prémio literário. Trata-se de uma paródia à religião, reescrevendo-a, e um encontro com o futuro que será, inevitavelmente, o nosso presente. Além de nos permitir uma reflexão acerca da religião, mergulhamos ainda na fragilidade da condição humana, no sofrimento, no perdão e na própria morte. Em agosto, comecei a escrever um outro manuscrito com resquícios de modernidade num estilo amplamente coloquial. O cenário inconclusivo de mistério e abandono dá-nos a conhecer personagens aleatórias que se conhecem por acaso e que tentam desesperadamente encontrar-se e saber quem são. Nas conversas entre si, vamos construindo cada personalidade lentamente, recriando o seu passado até chegarmos ao paradigma de um presente confuso. O Estado Novo será um incómodo para todos, dialogando com um presente igualmente impreciso e de desesperança.

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Manuela Lobo Vieira na Novos Livros | Entrevistas