Cláudia Ninhos | Portugal e os Nazis

1-De que trata este seu livro «Portugal e os Nazis»?

R- O livro procura analisar as política cultural nazi em
Portugal através de fontes alemãs. Embora o período sobre o qual me debruço
corresponda aos anos em que o regime Nacional-Socialista esteve no poder, foi
necessário recuar no tempo para compreender as continuidades e rupturas.
Centramo-nos nos inúmeros intercâmbios promovidos pela Legação Alemã, pelo
Grémio Luso-Alemão, pelas organizações nazis, em especial a Juventude Hitleriana,
mas também pelos Institutos Portugueses criados no Reich e pelo Instituto
Ibero-Americano de Berlim. Optámos por alargar o âmbito do estudo das relações
luso-alemãs a um aspecto pouco estudado pelos investigadores, que é a
diplomacia de cariz cultural e científico, campos que são, muitas vezes,
incorrectamente entendidos como apolíticos. Como procuraremos demonstrar, a
política cultural alemã em Portugal respondeu sempre a objectivos de natureza
política e económica.
2-A investigação que desenvolveu revelou-lhe dados novos
sobre este período da história de Portugal e da Europa?
R- Sim, a consulta da documentação do Arquivo Político do
Ministério dos Negócios Estrangeiros Alemão permitiu-nos aceder a fontes
primárias importantíssimas para compreender as relações luso-alemãs durante
este período, que depois confrontei com fontes inglesas e portuguesas. A
correspondência diplomática prova que a política cultural foi o instrumento
privilegiado para promover a compreensão pela Alemanha e pelo novo regime, nomeadamente
à medida que a sua política externa se radicalizava. Os diplomatas e as
instituições alemãs procuravam criar um clima de simpatia e boa vontade face ao
III Reich e às suas reivindicações através de filmes, revistas, exposições,
digressões de orquestras e grupos de teatro, fomentando o ensino do alemão e o
intercâmbio académico. Todas estas actividades promovidas, a par das visitas ao
Reich, das conferências, do intercâmbio juvenil e académico, visavam promover a
imagem do regime nacional-socialista junto das elites portuguesas e, por
intermédio delas, influenciar a própria orientação diplomática do governo de
Salazar e afastar Portugal da omnipresente «Aliança Inglesa», isto é, da forte
influência económica inglesa, colocando o país sob a órbita alemã.
3-A neutralidade portuguesa (propalada pelo regime de
António Salazar) foi a realidade ou uma construção?
R- A neutralidade foi uma construção, que resultou do
esforço intransigente de Salazar em manter o país afastado do palco bélico, mas
que beneficiou, e muito, da sorte. O ditador encarava a neutralidade como um
campo que lhe permitia negociar com os dois lados e foi tentando contornar os
obstáculos e resistir às pressões a que era sujeito. Tratou-se uma
“neutralidade colaborante” quer com a Inglaterra, quer com a Alemanha
Nazi. Salazar sempre desejou uma paz sem vencedores, nem vencidos, que se
pautasse pela manutenção do status quo do período pré-guerra.
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Cláudia Ninhos
Portugal e os Nazis
Esfera dos Livros  15,90€