José António Figueiredo: Novos modelos de negócio

1-Qual a ideia que esteve na origem deste seu livro «Sem Casas, Sem carros e Sem Lojas – Modelos de Negócio no século XXI»?
R- O mundo está a mudar a uma velocidade cada vez maior. A globalização, a tecnologia e a mudança de hábitos dos consumidores fazem aumentar a pressão junto das empresas. Estas têm de mudar rapidamente ou colocam a sua sobrevivência em causa. Esta destruição criativa por via de novas propostas inovadoras tem de ser entendida de forma clara pelos empresários e empreendedores. Ou seja, ou as empresas mudam e se adaptam, ou desaparecem. As empresas portuguesas têm de perceber esta transição brusca que agora se verifica, e por isso é importante levar esta temática junto da comunidade empresarial, dos empreendedores e dos estudantes da área económica e de negócios. Não estamos perante obstáculos intransponíveis, estamos antes perante desafios que têm de ser levados a sério, e que podem ser ultrapassados, basta para isso utilizar os recursos disponíveis, quer sejam humanos ou materiais. A inconstância dos mercados atuais traz incerteza e insegurança, mas permite também alcançar objetivos por vezes de grande dimensão. Por exemplo, o Skype foi originalmente desenvolvido na Estónia, e é hoje uma marca global inserida no universo Microsoft. Mesmo pequenos países podem desenvolver novos conceitos com grande sucesso.

2-As empresas estão, de certa forma, subjugadas pelas dinâmicas digitais mas o seu livro vem levantar uma questão pertinente: podem os negócios mais tradicionais reinventar-se?
R- Não há negócios mais tradicionais como sejam a restauração ou a venda de livros. A Starbucks reinventou o modelo de negócio dos cafés, assim como a Amazon reinventou o modelo de negócios das livrarias. Em Portugal, a Padaria Portuguesa reinventou o conceito tradicional da pastelaria portuguesa. Muitas marcas de vinho de quinta portuguesas saíram da sua zona de conforto, e rejuvenesceram o seu modelo de negócio, apostando mais na qualidade do produto, focando-se na embalagem e na sua abordagem a um mercado mais sofisticado e exigente. O volume de negócios da atividade vitivinícola em Portugal cresceu muito nos últimos anos e poderá continuar a crescer muito mais, se os empresários do sector mantiverem o seu foco na inovação do negócio. No fundo, o produto tradicional vinho é hoje vendido a um preço mais elevado do que no passado, sobretudo porque os empresários souberam sair da armadilha do preço baixo e se focaram mais na escolha cuidada de clientes e na oferta de produto com valor. A dinâmica digital veio para ficar e só por si não justifica sucesso garantido para qualquer negócio, precisa de ser integrada num modelo de negócio mais vasto e robusto.

3-Os principais exemplos ilustrativos das suas ideias são grandes empresas internacionais: não temos já casos de sucesso em Portugal?
R- Nos manuais de gestão apareceram sempre as marcas mais relevantes, em particular aquelas que trouxeram mais rutura nos mercados globais. No passado, foram a General Electric, a HP, ou a Sony. Hoje, são a Uber, a Tesla, ou a AirBnB, entre outras. Em Portugal, temos marcas de sucesso recente, como a referida Padaria Portuguesa, assim como os grupos hoteleiros Vila Galé ou Pestana, e ainda grupos empresariais vitivinícolas, do passado e do presente, como José Maria da Fonseca, Esporão ou Sogrape. Contudo, no meu livro abordo o caso da cadeia de restaurantes Nando’s, com sede na África do Sul, mas com cerca de 1.000 restaurantes em todo o mundo. Esta cadeia de restauração foi fundada por um português, que tentou lançar o frango assado Peri-Peri, na África do Sul, que mais não era do que o frango de churrasco português. Ou seja, um produto tradicional português, o frango de churrasco, define o conceito de uma cadeia de restauração de grande sucesso a nível internacional. Os empresários e empreendedores portugueses podem rejuvenescer conceitos tradicionais, adaptando-os aos hábitos dos consumidores atuais, e assim virem a ter sucesso em Portugal ou mesmo em mercados internacionais.
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José António Figueiredo
Sem Casas, Sem carros e Sem Lojas – Modelos de Negócio no século XXI
Actual  17,90€

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