
1-Que significado teve para si receber o Prémio Defesa Nacional com o livro Poucos mas Bons?
R-Este prémio é, para mim, um importante reconhecimento de uma instituição tão prestigiada como é a Comissão Portuguesa de História Militar. É, sobretudo, uma oportunidade de divulgar este trabalho no seio das Forças Armadas – de onde, afinal, partiu – e do Ministério da Defesa, uma honra que se torna maior quando o evento conta com a presença de Sua Excelência o Ministro da Defesa Nacional.
2-Qual a ideia que esteve na origem deste ensaio?
R-Em primeiro lugar, convém esclarecer que esta obra não é, propriamente, um ensaio. É um profundo trabalha de investigação que teve por base a minha tese de doutoramento. Quanto ao tema, já o tinha abordado, de modo muito sumário, nas minhas pesquisas sobre a Marinha de Guerra em meados do século XIX, no âmbito do meu mestrado em História Marítima. Tendo iniciado o meu doutoramento numa altura em que se debate apaixonadamente o papel de Portugal no tráfico transatlântico de escravos – onde lhe cabe, sem dúvida, o maior quinhão -, pareceu-me justo abordar o outro lado do processo: o da repressão do tráfego após a sua proibição pelo governo português em 1837.
3-Qual o papel da Marinha Portuguesa no combate ao tráfico de escravos?
R-A Marinha militar foi, simplesmente, o maior agente – ou instrumento – de repressão do tráfico de escravos de que o governo português pôde dispor para fazer cumprir a lei, tendo-lhe cabido mais de 90% das ações de fiscalização e das capturas. É natural que assim tenha sido, uma vez que o tráfico de escravos a partir das possessões portuguesas era, essencialmente, conduzido por via marítima. Claro que as autoridades locais – incluindo a autoridade marítima – também desempenharam o seu papel, assim como o Exército, através das tropas coloniais. E embora os resultados tenham sido algo modestos em termos absolutos, só foram superados pela ação repressiva do governo britânico, que dispunha, incomparavelmente, de mais meios (navios, homens, financiamento e redes diplomáticas). Mas este processo não se resume em poucas linhas. Nada como ler o livro para se ter ideia da sua complexidade, assim como de todos os procedimentos, problemas, limitações, conflitos sociais e debates políticos que lhe estiveram associados, sem esquecer uma exaustiva compilação de dados estatísticos que ajudam a ilustrar a sua dimensão nas suas múltiplas vertentes. Enfim, uma verdadeira epopeia que merece, sem dúvida, uma leitura mais atenta.
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Jorge Moreira Silva
Poucos Mas Bons. Portugal e a sua Marinha no Combate ao Tráfico de Escravos (1837-1904)
Guerra & Paz 19€
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