Álvaro Laborinho Lúcio | Ao encontro do leitor

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1-O que representa, no contexto da sua obra, o novo livro “A Vida na Selva”?
R-Quando, em 2014, lancei o meu primeiro romance, O Chamador, disse que queria ser escritor. Com isso não pretendia manifestar qualquer talento, que nem sequer adivinhava em mim, mas apenas assumir o compromisso de levar a sério aquele propósito, respeitando quem me lesse e quem aceitasse editar-me. Passados dez anos, depois de ter escrito e publicado mais três romances, O Homem Que Escrevia Azulejos, O Beco Da Liberdade e As Sombras De Uma Azinheira, decidi escrever, sempre no domínio da ficção, um livro que simbolizasse um encontro meu com os meus leitores, falando-lhes de mim, do meu pensamento sobre o mundo e a vida, das grandes e pequenas coisas que me marcaram e continuam a marcar, tudo como se se tratasse de momentos do caminho que me levou ao desejo de ser escritor. Uma vez concluído, sinto poder dizer que A Vida Na Selva é uma espécie de autobiografia oculta, escrita ao encontro do leitor, convidando-o a partilhar o meu trajecto enquanto autor, mas sempre à luz dos desafios postos pela ficção, exatamente essa que me levou ao romance, em 2014.

2-Este livro mostra uma incursão pelas memórias e as crónicas. Depois dos romances foi uma opção ou eram textos que já estavam à espera de publicação?
R-Neste livro transito entre a crónica, o pequeno ensaio, as memórias e o conto curto. Mais uma vez, agora do ponto de vista formal, é a ficção que está em jogo. Pode dizer-se que se trata de um conjunto de textos que podiam ser publicados como dispersos, mas que são aqui chamados a dialogar, uns com os outros, por forma a produzirem uma coerência, ela própria, portadora de um sentido ou sinal que vai para além deles.
Há como que uma trama, com os textos no papel de personagens, enquadrados por Um Prefácio e Um Posfácio. Aquele para dizer ao que venho; este como lugar de encontro dos leitores, saídos o espetáculo da leitura da qual também eles foram protagonistas.
No último romance, As Sombras De Uma Azinheira, há um Intervalo entre a primeira e a segunda partes, no qual eu, autor, convido as personagens para um almoço em minha casa. Aqui convido os leitores para celebrarem comigo, os meus dez anos de escrita de ficção. O que apenas podia ter sentido num novo espaço de ficção. Terminada a celebração, voltarei ao romance, continuando, como no início, a querer ser escritor.

3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R-Neste preciso momento, estou ainda a acompanhar, entre outras actividades, o caminho que este A Vida Na Selva está a fazer. Tendo ele várias passagens pelo tema da Educação e da Escola, não faltam iniciativas que me levam a desenvolver o que aqui está tratado numa perspetiva menos ensaística e mais simbólica, um pouco como acontecera já com um outro recente trabalho meu sob o título de O Velho E A Escola. Há já, porém, vários outros projectos que vão ganhando corpo na fase inicial em que tudo é elaboração ao nível da imaginação, seja na definição do tema, seja na composição do tempo e da acção necessários para receberem a história a contar, seja o esboço da forma a adoptar. Tenho, assim, em perspectiva, dois novos romances, um conto longo sobre a minha terra, uma história no campo da literatura infantil ligando aos direitos da criança, e mais um ou outro texto disperso. Estes últimos para 2025, os romances para 2026. Veremos se todos vêm a concretizar-se.
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Álvaro Laborinho Lúcio
A Vida na Selva
Quetzal  16,60€

Álvaro Laborinho Lúcio na “Novos Livros” | Entrevistas

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