Pedro Catarino Luís: “Um país que despreza os mercados de capitais terá sempre uma economia pequena e medíocre”
1-Qual a ideia que esteve na origem deste seu novo livro «O Grande Livro da Bolsa»?
R-A ideia para este livro surgiu no seguimento do trabalho de partilha de conhecimentos desenvolvido através da Academia de Bolsa. Em Portugal, as traduções das melhores obras sobre o tema são escassas e mais escassos ainda são os autores nacionais que a ele se dedicam. Tentou-se assim compilar, numa grande obra em dois volumes, o melhor do conhecimento sobre Bolsa numa perspetiva do investidor privado e independente, através de uma linguagem acessível a todos, que estimule a curiosidade e incentive à reflexão crítica.
2-O tema da Bolsa está, muitas vezes, envolvo em especulação sendo habitual falar-se em “jogar” na bolsa como se de algo de lúdico e não uma actividade muito séria e importante: a que se deve este enviesamento?
R-Os mercados de capitais são essencialmente um sistema de partilha de riscos e de benefícios sobre iniciativas empresariais: as empresas cotam-se em bolsa para fortalecerem a sua posição financeira, os investidores disponibilizam recursos financeiros em troca da possibilidade de participar no desenvolvimento das empresas. Para facilitar e flexibilizar a entrada e saída no mercado por parte dos investidores é necessário possibilitar que estes troquem livremente entre si as suas participações nas empresas, existindo para isso um espaço aberto de negociação contínua e diária, que também abre a possibilidade de realizar operações de compra e venda, meramente transacionais, sem um foco no desempenho empresarial. Como em Bolsa os preços flutuam livremente, podem registar-se grandes variações de preços em curtos períodos de tempo, criando incentivos a alocar capital no curto prazo baseados em preços de mercado e não nos benefícios de participar no desenvolvimento das empresas no longo prazo. Num dos extremos desta dicotomia, sempre germinou a fantasia de enriquecer em Bolsa de forma rápida tentando captar favoravelmente grandes variações de preços – são muitos os que tentam repetidamente acertar na lotaria ficando cada vez mais pobres pelo processo.
3-Pensando em leitores não-especialistas: para que serve a Bolsa no contexto de uma economia aberta mas pequena como a Portuguesa?
R-As Bolsas são espaços regulados, abertos e flexíveis, ideais para alocar poupanças, onde qualquer pessoa pode participar no mundo empresarial e usufruir do crescimento económico a nível mundial, ao lado dos grandes inventores, empreendedores, empresários e investidores da atualidade. Em Portugal, onde é muito difícil criar e desenvolver empresas, enquanto tivermos liberdade para investir nas várias praças bolsistas mundiais, podemos beneficiar e usufruir do crescimento, das inovações e avanços tecnológicos, que se registam noutras geografias. Importa perceber que as maiores Bolsas internacionais estão presentes nas economias mais dinâmicas e desenvolvidas do mundo, e é lá que encontramos as melhores, mais competitivas e inovadoras, empresas cotadas. Um país que despreza os mercados de capitais terá sempre uma economia pequena e medíocre.
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Pedro Catarino Luís
O Grande Livro da Bolsa-I
Actual Editora 26,90€