Sara Duarte Brandão: Uma leitura poética suficientemente lapisada para novos reencontros

CRÓNICA
| agostinho sousa

Adquiri este livro sem o ter folheado ou lido qualquer crítica sobre o mesmo. Arrisquei, completamente às cegas, a sua compra online e não estou nada arrependido. Deste feliz acaso resultou uma leitura poética suficientemente lapisada para novos reencontros.
Sublinhe-se que se trata de uma jovem Poet(is)a cuja idade está aquém da maturidade vivencial e de escrita poética apresentadas.
Na escrita há referências marcantes à Família, ao Amor, à Palavra, mas destaco a Liberdade e a necessidade de manter o seu combate presente – até porque há por aí novas formas de censura, mais ou menos camufladas – como quando se lê em o Navio de combate ao esquecimento:

A palavra
nosso navio de combate
 ao esquecimento
lê com atenção os silêncios
que sobrevivem nos lábios

Na mesma página, em baixo, escrevi a lápis:

Hisson la voile, il faut tenter de vivre!

De Paul Valéry e lido, recentemente, num poema de António Cabrita que o próprio traduz:

Icemos a vela, é preciso forçar a vida!

Neste tempo de abundância descontrolada de informação, e sabe-se lá de mais o quê, é reconfortante e primordial (tentar) colher o melhor fruto:

 […]
(num tempo em que se cultiva muito mais
do que aquilo se colhe)
[…]

Ou como Sara Brandão inventa: deixo o verso a cerejar.
Esse cerejar, essa esperança, leva-nos a o seu aroma que se adivinha dos cravos, curiosamente, deste livro que estava à minha espera na caixa de correio, em vésperas do dia da Liberdade, a que juntei um molho, recém-comprado, de flores de revolução.
Em suma, ainda há coincidências felizes.
Espinho, 25/04/2023
__________

Sara Duarte Brandão
Descolonizar o Sujeito Poético
Editora Urutau  13€

COMPRAR O LIVRO